Por Jonas Fachi
Foto de abertura: divulgação
Muitos dizem que a música eletrônica nada mais seria do que uma evolução do rock. Quando se investiga os primórdios das sonoridades obtidas por instrumentos eletrônicos, encontramos uma infinidade de artistas e bandas que já a partir do final dos anos 60, buscavam por identidade distinta, encontrando e extraindo de sintetizadores ondas distorcidas, além de ambiências capazes de levar o imaginário dos ouvintes em diferentes direções.
Quando olhamos para o cenário nacional, essa veia eletrônica pertence a um dos artistas mais inovadores e inquietos da história do rock brasileiro. Um verdadeiro explorador das diversas possibilidades e conexões que o gênero pode fazer – Humberto Gessinger, ex líder da lendária banda Engenheiros do Hawaii. É comum vê-lo nas redes sociais fazendo testes em seu estúdio com sintetizadores como o Nord Electro Stage One da Behringer, pedaleiras eletrônicas, distorções de vocais e guitarras progressivas. Seu primeiro álbum solo, “Insular”, de 2013, sintetiza bem esse mix de rock com eletrônico que o artista passou a explorar após o fim da banda. Humberto é um verdadeiro desbravador se si próprio, recriando arranjos e ritmos de suas próprias músicas. Nos últimos anos ele vem trazendo para seus shows músicas super conhecidas com novas melodias, ritmos e até tonalidade de voz.
Humberto Gessinger – Foto: divulgação
Quando olhamos para os passos de um artista de tamanha magnitude, o mais completo do rock brasileiro, na minha visão, se torna obvio a busca por colaborações com produtores do mundo da dance music, entretanto, essa ponte entre os dois gêneros raramente é criada. Infelizmente, há um certo preconceito de artistas do rock com produtores eletrônicos que muitas vezes não tocam instrumentos reais. Essa história parece que vem mudando, recentemente, Rita Lee concedeu a diversos produtores brasileiros remixes de obras clássicas de sua carreira, entre eles nomes como Gui Boratto e Elekfantz. O fato é que o mundo dos músicos do rock e dos produtores eletrônicos possuem universos diferentes, que por vezes podem e devem se conectar, afinal, suas bases de instrumentos são muito semelhantes.
Postagem de Humberto no Facebook em 2015 apresentando os instrumentos usados na tour do álbum “Insular”
Humberto, pioneiro como sempre, faz a escolha por BLANCAh soar até natural. Por ser do sul, por ser fã do Engenheiros do Hawaii e principalmente pelo talento multi facetado em diversas vertentes da arte. A combinação de seus talentos não poderia terminar diferente – um passo em uma nova direção, afinal, BLANCAh aproveitou o momento para apresentar outra versão sua, criando um trip-hop a partir de um rock, por meio do mundo digital eletrônico.
BLANCAh – Foto: divulgação
A catarinense transformou completamente a canção “Um Dia De Cada Vez”, transportando a voz de Gessinger para um novo contexto eletrônico conceitual e viajante. A música, inclusive, virou vinheta de abertura do show do icônico músico gaúcho!
O remix oficial — ou melhor, rework, como define a artista — faz parte do mais recente álbum de inéditas do músico gaúcho, “Não Vejo a Hora”, de 2019, e foi lançado em novembro, pela Deck.
“Trouxe uma atmosfera bem intimista e noturna, me valendo da estética do trip-hop, um dos meus gêneros favoritos. Recriei toda a melodia e harmonia, pois a música original tem uma composição enxuta, coisa de trio — algo que o Humberto valoriza pela crueza (baixo, guitarra e bateria). Já no meu remix, recriei tudo e compus uma harmonia toda nova. Nem considero um remix, e sim uma releitura. Da música original, ficou apenas a voz”, explica a produtora catarinense.
A música tem sabor especial e nostálgico para BLANCAh, já que foram os Engenheiros do Hawaii que a inspiraram a entrar no mundo da música, ainda na adolescência. “Montei minha primeira banda para cantar as músicas deles. Fazia coleção de discos, posters, fotos de revistas, fitas cassetes, os seguia em shows. Depois cresci, sem banda, pendurei o violão e comecei a construir minha carreira de DJ. Naturalmente, comecei a fluir no circuito da música eletrônica e deixei de lado outros estilos”, explica.
BLANCAh, sua irmã e Humberto Gessinger – Tour do álbum “Tchau Radar”, em 1999
“Houve um hiato de muitos anos desde minha adolescência até os dias de hoje. Quando recebi o convite para remixar uma de suas faixas, precisei revisitar o meu antigo ídolo. Voltei a ouvir suas músicas, velhas e novas. Precisei reconhecê-lo novamente. Também assisti a muitas entrevistas no YouTube para me reconectar. Inclusive, incluí trechos de algumas no meu remix. Foi um trabalho muito prazeroso com uma pitada de saudosismo, diferente de todos os outros remixes que já fiz na vida”, declara.
A admiração é mútua, já que Gessinger conheceu e se tornou fã do trabalho da catarinense há sete anos. “Gosto muito do trabalho da BLANCAh. Comecei a acompanhar mais de perto a partir da releitura que ela fez da música `Quartos de Hotel`, para um disco de versões dos EngHaw, em 2014. Quando tive a ideia do `Água Gelo Vapor`, logo pensei nela. O remix de `Um Dia De Cada Vez` ficou lindo e já virou vinheta de abertura do show”, afirma Humberto Gessinger.
“Água Gelo Vapor” é o projeto no qual o gaúcho convidou produtores de música eletrônica para levar algumas canções de “Não Vejo a Hora” para “novas paisagens”, como ele mesmo diz.
O primeiro trabalho foi feito por Carlos Trilha, que, ao combinar “Estranho Fetiche” e “Fetiche Estranho”, trouxe a chamada “Estranho Fetiche Estranho”, em 8 de outubro. No dia 22 daquele mês, foi a vez do duo paulista Future OHM lançar o seu remix para “Maioral”. Depois da releitura de BLANCAh, haverá ainda uma quarta faixa, prevista para o dia 19 de dezembro deste ano.
“Humberto Gessinger – Um Dia De Cada Vez (BLANCAh Rework)” já está disponível nas plataformas digitais. Clique aqui.
Sobre Humberto Gessinger
Com 36 anos de estrada, o cantor, compositor, multi-instrumentista e escritor Humberto Gessinger já lançou 22 álbuns, sendo “Não Vejo a Hora” o seu quarto disco solo. Oito DVDs completam a discografia, que renderam oito discos de ouro, um disco de platina, quatro DVDs de Ouro e milhares de fãs apaixonados por sua música.
Paralelamente a seu trabalho como músico, Humberto Gessinger já lançou cinco livros: “Meu Pequeno Gremista”, “Pra Ser Sincero”, “Mapas do Acaso”, “Nas Entrelinhas do Horizonte” e “Seis Segundos de Atenção”.