Entrevista: Rodolfo Conceição – edição: redação
Foto de abertura: divulgação
A música é capaz de proporcionar encontros especiais com talentos do mundo inteiro, e foi graças a ela que nós brasileiros embarcamos para a Irlanda e conhecemos um artista que tem conquistado produtores, DJs e ouvintes de todas as nacionalidades.
RION S, o nome pode não soar familiar, mas sua voz com certeza é. O cantor e compositor assina faixas com Eli Brown, Maxine, Yousef, Pirate Copy, entre outros grandes nomes gringos. E não para por aí. Recentemente, lançou “Who We Are” ao lado do português Tom Enzy pela CONTROVERSIA, selo de Alok, e no dia 15 de outubro terá a sua track “Money Money” remixada por Vintage Culture.
Natural de um pequeno condado da Irlanda, Armagh, Ryan Sewell tem uma história apaixonante com a música, e que tem proporcionado não só realizações profissionais, mas pessoais. “Quando comecei a progredir na minha carreira, tive a sorte de poder levar meu pai como um VIP a um show do Geno Washington. Por meio de alguns contatos que fiz na indústria ele foi capaz de conhecê-lo cara a cara e passar algum tempo com ele. Esse era o artista favorito do meu pai e foi incrível poder devolver algo ao homem que me educou e formou meu gosto musical e talento”, conta.
Foto: arquivo pessoal
Batemos um papo com essa potente voz que traz vida e emoção para sonoridades que vão do soul, funk, indie, pop, country à música eletrônica.
HM – Oi RION, antes de mais nada, para quem não te conhece, conte um pouco da sua história.
Sou apenas um irlandês normal da cabeça que desde muito jovem se apaixonou pela música eletrônica. Fui fortemente influenciado pela soul music, e a house music veio logo depois como uma ordem natural das coisas na minha opinião. Anos atrás decidi que me tornaria um escritor e vocalista.
Mesmo sem experiências ou aulas, sentia que tinha algo a oferecer ao mundo da música. Decidi trabalhar duro para aprender usar o software e escrevia letras todos os dias, foi algo que me sacrifiquei muito para fazer, mas quando olho para trás, vejo que tudo valeu muito a pena. Tive a sorte de ter meu vocal lançado pela Spinnin` Records e, a partir daí, as coisas começaram a acontecer rapidamente. Meu alicerce sempre foi a house music, mas também escrevo letras para vários estilos e logo estarei mostrando para o mundo.
HM – Você tem uma ligação especial com o Brasil. Além do lançamento pela gravadora CONTROVERSIA, do Alok, gravou vocais para mais brasileiros, tais como Leandro Da Silva entre outros, e Vintage Culture sempre toca algumas deas suas faixas. Como surgiu essa ligação com alguns dos maiores nomes da música eletrônica brasileira?
O que posso dizer é que os brasileiros sabem o que é gostoso [rs]. Falando sério, eu acho o povo brasileiro muito fácil e divertido de trabalhar, e com um talento incrível. Fiquei muito feliz em lançar com a CONTROVERSIA, pois foi algo um pouco diferente da minha rota mais underground e, obviamente Alok é um grande astro.
Eu fiz algumas faixas com Leandro Da Silva, ele sempre impressiona com tudo que faz, então é ótimo fazer parte disso. No que diz respeito ao Lukas (Vintage Culture), eu sou um grande fã, e é sempre incrível ter as pesssoas que você admira tocando suas faixas, e agora ter uma faixa remixada por ele, com lançamento pela Defecded Records, é simplesmente incrível para mim.
HM – O Vintage está preparando um remix de uma das suas faixas, é isso mesmo? Conte – nos sobre esse lançamento e o que significa para você ter uma faixa remixada por um dos maiores fenômenos da música eletrônica hoje.
Bem, como eu disse, o Lukas para mim é como se fosse um herói, e eu um pequeno fã [rs]. Na verdade, foi uma história engraçada, meu manager Jonh Sauderson, que vocês já devem conhecer, esqueceu de me contar sobre isso, casualmente conversando pelo telefone, ele lembrou de me falar, quase deixei o telefone cair [rs].
A emoção era tão grande, que adoraria ter gritado de cima do telhado, mas como você sabe, essas coisas devem ser mantidas em segredo, até que aconteça. Esse disco ja teve remixes aclamados, “UK LEGENDS MISTA JAM” é uma faixa que eu fiz com pesos pesados de New York Black Caviar e é todo tipo de FUNKY, e como você pode imaginar, Lukas subiu um degrau e a transformou em uma track Club Banger. É uma boa dose de confiança, e parece uma vingança do bem por eu ter escolhido me jogar na carreira musical.
HM – Você é um cantor muito versátil, indo do pop ao indie. Como se dar bem nos mais variados estilos musicais e vocais? Quais suas inspirações e referencias?
Tive muita sorte de ter um pai que tinha um ótimo gosto musical e conhecimento, fui alimentado com OTIS READING, AL GREEN, MARVIN GAYE e outros desde que eu era um bebê, e meus irmãos mais velhos me colocavam para assistir as filmagens antigas do WOODSTOCK e MONTREAL, e tudo foi crescendo a partir daí. Eu era um pouco esponja para a música, e sempre tentei imitar cantores, acho que isso me levou a ser capaz de desenvolver a minha voz para que eu pudesse moldá-la como eu queria. Eu amo música, e para mim só existem apenas dois gêneros, boa ou ruim [rs].
Foto: arquivo pessoal
HM – Cada vez mais cantores/compositores estão se aventurando no mercado da música electrónica, vindo da música acústica. Você já teve alguma banda ou grupo? E como você entrou na música eletrônica?
Eu tenho um projeto acústico para terminar, é um álbum muito especial pra mim, que é basicamente sobre a minha luta contra o vício e problemas de saúde mental, que realmente me deixaram sem teto em um momento da minha vida, não muito tempo atrás. Isso tudo deixou uma marca em mim, permanecerá em mim, como um lembrete para eu trabalhar duro, me cercar de pessoas boas, e manter a minha fé, que é grande parte de mim agora.
HM – Falando em colaborações, você já trabalhou com grandes nomes e grandes promessas da cena? Como você gosta de trabalhar, e qual seu processo criativo? Com quem você tem mais orgulho de ter trabalhado?
Já tive trabalhos com pessoas incríveis e alguns estúdios icônicos, tenho orgulho de todas as minhas colaborações igualmente, pode parecer clichê, mas eu fiz grandes amigos ao longo do caminho, e isso significa muito mais do que o número #1. Eu sou um pouco viciado em escrever, agora meu processo tende a ser muito rápido, eu escrevo com sentimento puro e nada mais. Eu acredito que o sentimento dita a melodia, que então dita a letra, cada um tem seu próprio caminho, mas isso é o que funciona pra mim.
HM – Qual você considera o ponto alto da sua carreira?
Para ser sincero, acredito que foi quando o John disse que queria me contratar e se tornar meu manager. Isso foi um grande elogio, um cara que ja trabalhou tantos talentos ao longo de anos encontrar talento em mim e me dizer que me achava especial e estávamos apenas no começo.
HM – No Reino Unido já vivem a reabertura dos clubes, após um longo bloqueio. Que lições você aprendeu nesse período de isolamento e o que você espera desse momento para a cena eletrônica?
O raver antiquado em mim esperava que tudo fosse underground de novo e poderíamos ter noites suadas em clubes undergrounds, mas na realidade, encontrei a oportunidade de baixar a minha cabeça e criar. Acho que eu escrevi pelo menos umas 300 letras nesse tempo, o que aumentou meu catálago, agora preciso colocar em ordem algum dia, os criativos nem sempre são organizados [rs]
HM – Finalmente, o que podemos esperar de você nos próximos meses?
Eu tenho Lançamentos com a Defected e Toolroom chegando, algumas com CaSSIMIMM mais a frente algo muito especial com Periro Perupa no lendário selo Goo Company aqui no Reino Unido, e muitos outros, inclusive produtores da sua terrinha.