Por Dudu Palandre e Décio Deep
Foto de abertura: Beyoncé por divulgação
Se você esteve presente na Internet nos últimos meses, em algum momento, deve ter se deparado com comentários a respeito do novo álbum da Beyoncé, o “Renaissance“, lançado no dia 29 de julho. A cantora é a própria definição de sucesso no mundo da música pop, mas, o que chocou mesmo foi a nova abordagem apresentada neste trabalho, que trouxe ao mainstream o retorno da house music soulful, bem característico dos anos 90.
O próprio nome desta vertente já diz muito sobre a sonoridade que ela apresenta. O soulful (“cheio de alma”, em tradução livre) house é uma mistura do clássico gênero eletrônico dos anos 80, que traz características discos, fortes linhas de baixo e baterias marcantes, com o soul, um estilo musical que tem uma apresentação emotiva com muita entrega, numa melodia bem ritmada e, normalmente, um vocal feminino. Essa fusão resultou em algo poderoso, carregada de letras fortes e otimistas, além de muita vibração.
Desde o lançamento do primeiro single do “Renaissance”, “Break My Soul”, Beyoncé vem explorando esses elementos de uma forma inteligente. Mas, ela não é a primeira a beber dessa fonte em 2022, outros dois grandes artistas também tiveram o mesmo insight.
Em março deste ano, a cantora britânica Charli XCX levou aos charts um hit inspirado no soulful. A música “Used to Know Me” traz em sua melodia o sample de um hino house, “Show Me”, da artista Robin S., inclusive, já comentamos aqui a importância desta cantora para a cultura house. Coincidentemente, a mesma faixa é sampleada em “Break My Soul”.
O terceiro artista que também está apresentando influências do soulful é o cantor e rapper Drake. Com seu álbum “Honestly, Nevermind”, o canadense surpreendeu, saindo de sua zona de conforto do hip-hop e r&b para apostar nesta marca sonora, mas, carregando uma vibe mais introspectiva.
Nessas produções, é importante destacar as parcerias e colaborações que elas apresentam. Em “Renaissance“, Honey Dijon e Green Velvet, DJs e produtores de Chicago, estão entre os créditos das músicas. Já em “Honestly, Nevermind”, alguns dos nomes são Black Coffee, Rampa e Alex Lustig, DJs renomados. Ressaltamos essas participações, pois são artistas que há anos vem desenvolvendo e criando dentro desta sonoridade. Ou seja, como este pode ser o retorno do soulful house, se tudo indica que ele nunca morreu?!
Dentro da cena underground, a vertente do house sempre esteve viva. Um exemplo desta estabilidade é a carreira consolidada da cantora Ultra Nate, que de 1991 até hoje, nunca deixou de produzir e compor músicas do gênero. Sendo assim, a novidade agora é o retorno do soulful ao mainstream e, aparentemente, é uma onda que vem para ficar por um bom tempo.
A música, assim como a moda, está sempre em movimento, e vez ou outra, aspectos que estavam em alta nas antigas, voltam “de cara nova”. Um exemplo claro disso foi a volta da sonoridade disco dos anos 80, explorada em trabalhos recentes – principalmente em 2020 e 2021 – e que se tornaram hits, como os álbuns “Future Nostalgia”, da Dua Lipa; “Fine Line”, do Harry Styles; e “Blinding Lights”, do The Weeknd.
E, agora, o mesmo acontece com o soulful house. Quem acompanha a cena musical, já deve ter percebido que essa tendência vem desde antes da pandemia, quando DJs e produtores começaram a procurar mais sobre artistas deste gênero. Ultra é novamente um ótimo exemplo desta ascensão, pois está novamente sob holofotes, já que após a estreia de seu último álbum “Ultra”, dois dos seus discos dos anos 90, “Blue Notes in the Basement” (1991) e “One Woman’s Insanity” (1993), estão passando por remasterização para um relançamento.
Com tantos fatores envolvidos, este acontecimento, junto ao sucesso dos lançamentos da Beyoncé, Drake e Charli XCX, pode não indicar a ressurreição deste gênero – partindo do ponto que ele esteve bem vivo – mas, reforçam o fato principal: o soulful house é, com certeza, o som do momento!
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