Conversamos com Tha Guts em comemoração ao lançamento do álbum Mycelium Network

Por Rodrigo Airaf

Foto de abertura: divulgação

Focada em qualidade e não em quantidade, a abordagem essencialista da DSRPTV Records justifica-se: cada componente musical precisa vir junto de um sentido sólido, um conceito com vozes que ecoam, mergulham os sentimentos do ouvinte e tensionam percepções. Deste modo, artistas mostraram sua potência sonora na label desde sua inauguração; Spookyfish, L_cio, Kika Deeke e Kinkid, para citar alguns.

Esse espírito de conexão de artistas e ideias através da música cria um habitat que enriquece o coletivo e integra-se como um micélio, nome dado ao conjunto de hifas emaranhadas de um fungo. Estes “fios” nutrem e conectam, mesmo em subsolo. Se na natureza os fungos, como cogumelos, se sustentam com esse trabalho fluido e sutil dessas hifas, no novo álbum DJ e produtor Tha_Guts, “Mycelium Network”, elas são a narrativa de oito faixas autorais.

A rica história do álbum atravessa algumas qualidades melódicas, ora melancólicas, ora quase otimistas, mas, sempre profundas e dotadas de sofisticada seleção de elementos. As ambiências poderosas de “Mycelium Network” colocam em perspectiva um espectro sentimental vasto e, de quebra, instigam a curiosidade para entender a visão de Tha_Guts.

HM – Oi, Guto, tudo bem? De começo, e por curiosidade, o que significa DSRPTV e qual foi o pontapé para a criação do selo?

DSRPTV não significa nada além da palavra disruptive ou disruptivo. Idealmente escrevemos apenas com consoantes como metalinguagem do próprio nome não ser escrito do modo tradicional e carregar o conceito da label em sua id visual.

HM – Como você explica os seus critérios na curadoria da DSRPTV, de modo que se mantenha leal ao propósito do projeto? 

Como é possível perceber a gravadora apresenta um espectro bem amplo de possibilidades então o foco nunca foi uma direção com base em um gênero musical, mas, sim, tensionar esses limites (por vezes invisíveis) da música eletrônica. De modo simples, nosso foco é proporcionar uma experiência original e inesperada ao catálogo.

HM – Como foi o começo de “Mycelium Network”? Quais ideias e conceitos vieram primeiro e como foram se formando até chegar na jornada de oito faixas que você lançou? 

Esse disco diferente de outras tracks que lancei precisou de bem mais tempo na audição das ideias para entender o que cada faixa precisava. Pode-se dizer que foi um tempo longo se pensar que comecei a gravar no final de 2020. Depois dessa primeira versão tive a oportunidade de trabalhar com o L_cio na pós produção o que solidificou e trouxe uma homogeneidade para as faixas. Posteriormente, fechada essa janela de composição RHR teve a ideia de masterizar o álbum completo em fita rolo com o Arthur Joly. O Roni é esse produtor genial que tem ideias fora da curva e teve uma leitura perfeita de como o resultado deveria soar.

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Foto: divulgação

HM – Ao planejar o álbum, você consumiu referências específicas? Se sim, quais? 

Eu penso que sim, mas não de um modo tão literal. Ouvindo agora percebo que essas faixas carregam uma atmosfera onde a pandemia se tornou uma realidade que não podia ser mais ignorada e reflete esse tempo confuso cheio de incertezas. Por outro lado, eu comecei como artista lançando um álbum, já estava no tempo de pensar em oferecer um trabalho completo que soasse como uma experiência completa com início, meio e fim.   

HM – Em um aspecto técnico, quais instrumentos ou setup geral foram indispensáveis para a formulação de “Mycelium Network” até chegar nessas nuances meio orgânicas, meio sintéticas?

O processo de composição teve duas partes bem definidas, embora isso aconteceu acidentalmente. Primeiro, a ideia era gravar diferentes instrumentos orgânicos o que levou a registrar um número enorme de ideias em um estúdio que pudesse oferecer essas possibilidades. Depois de gravar diversos takes eu tive um tempo de decupagem do material em um home estúdio. Se você parar pra ouvir tem rhodes e pianos em quase todas faixas e acredito que esse fator imprimiu essa organicidade, sendo que por outro lado as baterias têm uma maior aspereza que cria o contraste. Sobre as ambiências e texturas, elas foram gravadas todas depois do disco pronto de modo que pudesse proporcionar uma experiência mais imersiva em cada faixa.   

HM – Entre as oito faixas apresentadas, há alguma que possui um significado especial pra você? Por que?

Quando eu gravei cada faixa pensei nelas de modo que cada uma pudesse ter seu espaço no andamento do trabalho, dando um protagonismo para o resultado final. Dito isso, como comecei a gravar em 2020, já tem um tempo de distanciamento de quando compus as tracks e consigo perceber como “Burning in my soul” se destaca em relação às outras, apresentando um norte mais sólido de como eu queria soar para um segundo álbum. 

HM – Conte-nos sobre os maiores desafios na produção do álbum. Obrigado! 

Quem já gravou um álbum sabe que tem momentos em estúdio que parece que não vai acabar mais [rs], mas, gosto de olhar para o agora e aceitar essas dificuldades do processo. No interior e no backstage do disco tem momentos que são determinantes para o caminho que a música vai tomar e mesmo com diversos desafios é um processo que acredito que vale ser experienciado. 

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