Mais de 25 anos como DJ sendo uma mulher preta, lésbica e imigrante não é uma tarefa para qualquer um. Exige muita resiliência, correria e um trabalho sério sendo feito por trás. Grace Kelly é a brasileira baiana com essa história. Após quase três décadas morando em Berlim, retorna ao Brasil com mais de 50 anos para lançar um novo projeto. Senta que lá vem história.
Grace chegou em Berlim em 1996, mas foi apenas em 2000 que começou a se auto declarar uma DJ profissional quando tocou pela primeira vez em um festival. No velho continente, não tocava música eletrônica. Seus sets eram focados em brasilidades, mpb, axé representando sua terra e afins. ‘’Eles piravam nas músicas brasileiras já naquela época’’, diz Grace. ‘’Já tinham os clássicos da mpb, depois chegou o Furacão 2000’’, completa.
Com o passar do tempo, o reconhecimento foi aumentando e a DJ que tocava músicas brasileiras ganhando cada vez mais espaço na cena e no mercado alemão. Kelly teve o programa semanal ‘’Selector Brasil Beats’’ na rádio Multikuti, além de ter sido proprietária dos bares Madame Satã e Heimlich e das festas/coletivos Mundo Mix, !Mashup, Mash Brasew e Oya Diamonds. Em seus eventos, buscava apoiar DJs da cena queer e atrair público deste nicho também para criar um ambiente seguro em que todos pudessem se divertir à vontade.
Muito da construção destes espaços se deu pela dificuldade em ser uma imigrante buscando seu espaço. ‘’Foi um trabalho muito difícil, por isso a gente criou o coletivo. Para dar mais visibilidade e dar palco para a gente e para esses artistas. Pensamos: ‘’vamos criar um lugar para a gente tocar’’. Depois disso começaram outros coletivos que fizeram movimentos nesse sentido também’’, comentou.
Mesmo com as barreiras, sua carreira como DJ seguia em voos altos. A artista cruzou fronteiras e chegou a tocar em países como Uzbesquistão e Marrocos em festivais para mais de 10 mil pessoas sendo a única mulher do line up.
Vivendo em um país com a cena clubber agitada como a da Alemanha e trabalhando diretamente com a vida noturna, Grace Kelly começou a beber de fontes da música eletrônica em certos eventos antes de começar a flertar mais com as gigs no Brasil.
Com a vontade de passar mais tempo em sua terra natal perto da família, Grace retorna com a ideia de um novo projeto: House Of Grace, focado em sets e produções 100% voltados ao house music e suas sonoridades, mas mantendo as características de sua carreira que a trouxeram até aqui.
Para além de apenas tocar e estar em line ups de clubs e festivais, House Of Grace nasceu para ser uma espelho para pessoas com mais de 50 anos e também para aspirantes a DJs do público LGBTQIAPN+. ‘’Eu renasci, estou me jogando no mundo com este projeto. Quero continuar existindo, ainda estou aqui depois de 25 anos e não podemos desistir. A concorrência é grande, mas tenho conhecimento, minha história.’’, finaliza.
House Of Grace já vem liberando alguns sets nas plataformas digitais.
Acompanhe Grace Kelly em seu Instagram oficial.
Por Adriano Canestri
Foto: Thiago Braga