Por Adriano Canestri
Foto: divulgação
Durante muito tempo na cena eletrônica nacional tanto DJs e produtores quanto o público evitavam, ou quase nunca tocavam músicas com letras que remetem ao funk. De alguns anos pra cá este cenário vem mudando e o gênero vem ganhando força nas festas de música eletrônica, seja com remixes de letras do funk ou com músicas de miami bass como o álbum ‘’Baile’’ do mineiro FBC que foi produzido por VHOOR.
E qual a relação do funk, que surgiu nos anos 60, com a música eletrônica?
O funk surgiu no início dos anos 60 na comunidade negra dos Estados Unidos, referenciado pelo blues, soul, jazz e gospel. O lendário James Brown foi um dos seus precursores e dos principais responsáveis pela popularização do gênero na comunidade americana. Segundo a professora de história Juliana Bezerra, em material para o site toda matéria, o nome ‘’funk’’ tem origem no jazz, quando os músicos pediam aos companheiros para que colocassem mais ritmo nas músicas. Coincidência?
James Brown/Reprodução
É na década de 70, o primeiro contato do funk com a música eletrônica. Com o desenvolvimento da tecnologia, agora a produção poderia ser feita com o uso de samples e baterias eletrônicas, o que daria cada vez mais ritmo ao som.
A década de 80 fica marcada pela combinação entre funk e hip hop. Com batidas cada vez mais aceleradas e dançantes, surgem dois movimentos distintos nos Estados Unidos. Em Miami, o miami bass ganha cada vez mais força nos bairros e na comunidade negra, enquanto outro ritmo aparece em Nova York.
Nesse período, se identifica uma aproximação nas letras do funk e do hip hop, com algumas mais erotizadas e outras contando o cotidiano da população negra da periferia.
A partir da década de 90 até os dias de hoje, cada vez mais se vê grupos/MC’s de rap e grupos/produtores de eletrônica utilizando elementos um do outro, principalmente em relação às letras das músicas, sintetizadores, samples e baterias.
O funk no Brasil
Assim como nos Estados Unidos, o funk no Brasil chega primeiro na periferia, em meados da década de 70. Artistas como Tim Maia e Tony Tornado começaram a incluir em suas músicas elementos do funk, principalmente a batida mais animada e dançante, o que fez muito sucesso inicialmente nos bailes do Rio de Janeiro e aos poucos foi popularizando o gênero no Brasil.
Em um primeiro momento, o que se via do gênero por aqui ainda tinha muita influência do que vinha de fora. De acordo com a Sociedade Artística Brasileira (SABRA), a virada de chave foi quando DJ Marlboro lançou seu álbum ‘’Funk Brasil’’ e incluiu as baterias eletrônicas às músicas, e a partir de então estava consolidado o funk brasileiro, que se popularizou com letras em português que retratavam a realidade das favelas.
DJ Marlboro/divulgação
Papel social do funk e da música eletrônica
O house, criado nos clubes undergrounds de Chicago e Nova York, além de proporcionar um momento de diversão e desligar todo o sofrimento e opressão que vivia o povo negro e LGBT na época, tinha um papel social importantíssimo, sendo o espaço em que os que viviam à margem da sociedade se sentissem pertencentes a um grupo. Com a popularização do gênero, essas comunidades ganharam voz e espaço na sociedade americana, trazendo auto estima para este povo.
No Brasil, o funk brasileiro com origem no Rio de Janeiro teve um papel bastante semelhante. O povo da favela conseguiu no gênero uma forma de se expressar, de mostrar para a sociedade e para as autoridades toda sua indignação com a violência, o descaso e a falta de oportunidades. O funk também permite, além das letras com viés social, que o cantor mostre a realidade que vivem em bailes funks em letras mais erotizadas, o que vêm desde o início do movimento nos Estados Unidos.
Portanto, a relação entre a música eletrônica e o funk está presente na música, mas vai além. Ambos convergem no papel social que tem para o povo das periferias das grandes cidades.