Por Geluk
Foto de abertura: divulgação
Conheci o Cuti em meados do ano passado, quando enviei uma música para lançar em sua gravadora, a CLAB Records. Ele havia me chamado no Instagram após ouvir meu e-mail de demo e, a partir disso, trocamos telefone e conversamos sobre os mais diversos assuntos, inclusive descobrimos que trabalhávamos na mesma empresa. Foi uma conexão à primeira vista e eu, por ser novo, não fazia ideia do legado que ele tinha na cena eletrônica carioca.
O Cuti, daquele jeito dele ”paizão” e sem ego nenhum, também não fazia questão de eu saber o quanto ele é gigante. Ele sempre falava do presente e, além de DJ, produtor musical, trabalhava nas artes da própria gravadora, que são conhecidas por serem incrivelmente lindas. E pelo que fiquei sabendo, ele sempre foi assim com todo mundo, cheio de energia e ideias, amando as pessoas e sendo um grande entusiasta da música. Porém, ainda faltava conhecê-lo pessoalmente, e isso só foi ocorrer meses depois, quando ganhei um sorteio junto com o talentoso Calazães para conhecer a CLAB.
Foto: divulgação
No dia faltei uma confraternização do trabalho e peguei um Uber direto para o local, confesso que era um período meio nebuloso para minha carreira, com muitas incertezas e com minha saúde mental debilitada, mas mal sabia que esse encontro iria mudar para sempre a minha visão sobre a música. Chegando lá, o Cuti fez a maior festa ao me receber e fiquei meio sem jeito por causa da minha timidez e aos poucos me soltei. Estavam todos reunidos em uma energia muito boa, contando histórias sobre a música e degustando um bom queijo.
A história que mais me recordo foi da épica Rio Parade de 2001. Nessa época não sabia nem o que era música eletrônica, mas o Cuti me mostrou cada foto incrível do evento que parecia ter acontecido recentemente. Ele descreveu com cada detalhe como foi, os cerca de 10 carros alegóricos que chegavam na Cinelândia para juntar a galera no palco principal. Contou como foi tocar house depois de drum ‘n’ bass, com o DJ Mark se não me falha a memória, e como um grande nome da cena hoje abriu o palco principal: “Marcelinho” CIC, no auge de sua juventude tocando techno.
Lembrou também sobre seus releases na Som Livre e depois na CLAB, sobre seus planos, sobre os novos talentos da cena que estava escutando (apresentei alguns também) e sobre sua visão da indústria. As horas passaram muito rápido, mas deu tempo para que ele mostrasse seu estúdio, com seu piano do qual saia as melodias clássicas do house tradicional, sua marca registrada, apelidei de “pianão do Cuti”. Ainda, junto com seu filho LED e o Calazães, fizemos um som na XDJ, tocando algumas tracks ainda não lançadas. Esse dia mudou completamente minha cabeça e me fez entender que não estou sozinho como achava, mas sim parte de algo muito maior, um movimento.
Depois desse dia incrível mantivemos a amizade, tive mais um lançamento na CLAB, e estávamos produzindo uma collab junto. Semanas atrás soube pelo Gaspar, A&R da Clab, que ele tinha sido internado por Covid, porém estava se recuperando e se comunicava com o pessoal via WhatsApp. Na minha cabeça, era questão de tempo ele voltar a ativa, não esperava sua partida, na verdade ninguém esperava.
Ontem recebi a notícia que ele se foi, sem dar tempo de nos despedirmos de um cara incrível, que era um grande incentivador da cena e colocava muito amor em tudo que fazia. Ainda não caiu a ficha, porém essa é minha homenagem a uma pessoa que deixou um legado gigante. Fica a lição, façam tudo com muito amor e sem ego, porque no final de tudo é isso o que importa. Continuaremos trabalhando com muita dedicação, a mesma que você me mostrou. Que Deus conforte sua família neste momento, seus amigos, em especial a galera da CLAB, e ilumine seu espírito nessa sua nova jornada.
Um grande abraço do seu amigo e até outra vida, Alexandre, ou Geluk, como você sempre me chamou.