Por Nicolle Prado
Foto: divulgação
Relevância não é um status imutável, muito pelo contrário, esta característica de teor comparativo precisa de constante manutenção, principalmente quando o assunto é o mercado da música. Com a ciclicidade da indústria e tendências que nascem e morrem em um piscar de olhos, não é incomum vermos artistas alcançarem relevância, para em seguida, nem ouvirmos falar seus nomes. Dito isso, fica claro que manter esta posição em um mercado tão competitivo e dinâmico por anos é para poucos, mais especificamente para aqueles que estão intrinsecamente ligados à música e que buscam constantemente a evolução. Chris Liebing é, certamente, um desses nomes.
Natural de Linden, na Alemanha, seu primeiro contato com a música aconteceu junto ao seu irmão, ao passarem a colecionar discos de vinil. Mas, apesar da inclinação familiar pelo rock, nessa época Chris já mostrava uma apreciação pela Dance Music, ao preferir produções de synth pop. No começo dos anos 90, sua carreira na música já dava os primeiros passos, ao inaugurar seu clube em 94, o Spinclub. E foi ali, em seu próprio espaço, que ele entendeu que seu caminho era na música, como DJ profissional, iniciando o casamento com sua maior paixão: o Techno.
Pouco tempo depois, o clube fechou, mas sua jornada estava apenas começando. Em 1996, a Audio, seu primeiro selo, ganhou vida, seguida pela CLR, que foi inaugurada em 1999 e se mantém até hoje. A partir daí, sua carreira tomou maiores proporções, a começar pelo o lançamento de seu primeiro álbum, Evolution, que trazia um conceito diferenciado e uma sonoridade mais experimental, que chegou a ser descrito pela CMJ New Music Report como “um álbum de techno para te acompanhar na guerra”, em tradução livre. Seguido de “Collabs 3000: Metalism”, em 2005, parceria com Speedy J, pela Nova Mute, que foi nomeado como uma das melhores coleções de música eletrônica do ano pela Billboard.
Em 2009, muito antes da popularidade dos podcasts, Chris Liebing já lançava o seu próprio, o CLR Podcast, que foi um dos programas mais influentes da cena por muitos anos. Aliás, sua criação veio da motivação do artista de não só promover a si próprio, mas divulgar novos talentos e difundir ainda mais o Techno no cenário mundial, convidando alguns dos maiores nomes como a Martin Gore, do Depeche Mode. O podcast teve 315 episódios, finalizando no ano de 2015, para dar lugar ao AM/FM, que apresentava mixes apenas de Liebing.
Mas, felizmente, o CLR Podcast retornou sua programação recentemente, se apresentando ao mercado com uma nova proposta. Isso porque, tanto o programa quanto o selo, levavam o nome de CLR em significado à Chris Liebing Records, mas agora vem sob a definição Create Learn Repeat, que também diz muito de todo o trabalho de Liebing.
O hiato também aconteceu em seus trabalhos de estúdio, sendo retomado em 2018, com o lançamento de Burn Slow, pela Mute Records, que surpreendeu todas as expectativas, com seu clima gótico e melancólico, paisagens apocalípticas e um techno puro, inspirado por seu amor de infância por Depeche Mode, Gary Numan e o movimento New Romantics. Na sequência, em 2021, apresentou seu segundo trabalho pela label, “Another Day”, que seguiu um caminho mais otimista e euforia, destacando a habilidade técnica e sonora do artista, além de apresentar colaborações com Miles Cooper e Polly Scattergood. E, não para por aí, no começo deste ano, Liebing se junto à Luke Slater para um remix para a faixa “Ghosts Again”, do Depeche Mode, além de apresentar seu EP “Love Those Who Fight With Passion and Faith”, que chegou às plataformas pela CLR, trazendo uma série de produções apaixonadas e dançantes,
Por essa constante movimentação do artista é possível perceber que a zona de conforto está longe de ser um espaço familiar à ele. Sua história se entrelaça com o próprio crescimento do Techno e mostra que, independente do campo musical que atue, Liebing se mantém com uma relevância e influência significativa, sendo uma das principais referências para a atual geração. Isso se deve, principalmente, pelo seu feeling apurado em saber o momento de se reinventar e por se manter em constante evolução, sempre desafiando a si mesmo e ao seu público.
Como chefe de gravadora, curador, podcaster, DJ ou produtor, o artista sempre esteve à frente do seu tempo, ditando movimentos dentro da esfera Techno com seus projetos inovadores, seja nos inícios dos anos 90, com seu som mais pesado, ou na virada do milênio, revelando o minimalismo despojado e até mesmo, atualmente com seus álbuns pela Mute, onde renova seu senso criativo e experimenta paisagens sonoras cinematográficas e expande a abordagem eletrônica de seu som. Esse perfil visionário também abraça a técnica e evolução das ferramentas, adotando as tecnologias mais modernas para suas produções e apresentação, por exemplo, quando foi um dos pioneiros a discotecar em setups híbridos/live.
Se conectar com o seu som já é imergir na história do Techno, mas vê-lo ao vivo é mergulhar pelas linhas mais profundas do gênero e ver nascer um entendimento das razões que tornaram o estilo tão popular. O artista já compareceu às terras brasileiras em algumas ocasiões, as mais recentes, em 2018, no CAOS, Tantsa e Warung Beach Club, e em 2020, retornou ao templo. Após três longos anos, sua volta já tem data marcada, visto que o artista estará em turnê pela América Latina nos próximos meses.
A turnê inicia no dia 24 de novembro, com uma data única por aqui, na D-Edge, em São Paulo, no dia seguinte, o alemão viaja para a capital chilena, se apresentando no Magik Garden. Iniciando o último mês do ano, o Crobar, em Buenos Aires (ARG), recebe o artista no dia 1º, enquanto no dia 2 de dezembro, Liebing se apresenta em Mendoza, no Nikki Club.
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