Por Laura Stetner
Foto de abertura: divulgação
Colaboração inédita na área! O brasileiro – e já conhecido por aqui – DJ Glen, une forças com o norte-americano Destructo para o lançamento da faixa “Distorted Reality”. O estilo de som único e cheio de personalidade dessa dupla não podia dar outra:a track realmente te leva a viajar por uma realidade distorcida, usando e abusando de elementos robóticos e sintetizadores.
Conversamos com Glen para saber de onde surgiu a parceria, como se conheceram e o processo de produção da faixa que saiu no último dia 28 de janeiro, pela gravadora do próprio Destructo, a All My Friends.
HM – Oi, prazer falar com você! Obrigada pela disponibilidade. Bom, penso que podemos começar pelo começo [rs]. Vocês estiveram juntos numa compilação da Bunny Tiger em 2019, certo? Foi aí que vocês se conheceram? Contem um pouco sobre como aconteceu essa aproximação.
Olá!! A primeira vez que me recordo de ter ouvido Destructo foi em uma collab com Chris Lake chamada “Y.O.D.O”, não me lembro o ano mas foi algo tipo 2017. Toquei este som um milhão de vezes e acabei me inspirando nela pra algumas produções minhas. Coincidentemente ou não, comecei a ver ele tocar estas mesmas produções (acredite que isso acontece bastante), logo as redes sociais aproximaram a gente.
HM – De onde veio a ideia de produzir uma faixa juntos? Se conectaram com o som um do outro logo de cara?
Me lembro que ele me mandou uma mensagem logo após o primeiro festival pós quarentena nos EUA, vi ele tocando algumas tracks minhas e repostei, foi algo do tipo “cara, precisamos fazer um som juntos”. Obviamente que aceitei e como vínhamos de um período bizarro de quarentena, a collab via Zoom e ideias sendo desenvolvidas a distância nem foram algo fora do normal. Deu bom na primeira tentativa.
HM – Achamos o nome da faixa perfeito pra ela! Como vocês chegaram no conceito de ‘realidade distorcida’ e por que decidiram seguir com essa ideia?
Antes de começar a fazer uma collab eu sempre pesquiso sobre o artista, tento entender de onde ele veio, suas referências e lifestyle. O excepcional foi que achei um cara muito parecido comigo, ele me contou que antes de ser DJ ele trabalhou com as maiores bandas da Califórnia nos anos 00, aquelas bandas que eu era fã e praticamente formaram meu gosto e expressão musicais, por exemplo RATM, Slipknot, RHCP e por aí vai.
A pergunta que nós fizemos foi: “por que diabos os produtores de música eletrônica não se posicionam politicamente em seus trabalhos?”. Estamos a beira de um colapso mundial e ninguém fala uma palavra sobre, não estou falando de rede social e treta com negacionistas, estou falando de usar a música como meio de comunicação, mensagens subliminares e este tipo de coisa.
Todo conceito e idéia por trás da track foi a tal da bolha de informação que desestabilizou tanto os EUA, quanto o Brasil. Seria muito chato fazer um som chamado de `Bolha de Informação`, então troquei o nome para `Realidade Distorcida`, que é mais ou menos isso. As pessoas querem viver na realidade que agrada elas, ou que faz sentido, isso leva a reavaliar até nossos próprios pensamentos, será que não estamos vivendo nossa própria bolha? Enfim, gosto sempre de jogar as perguntas para as pessoas na música e deixo com elas a resposta e a interpretação.
Falando do timbre, o groove e a agressividade vieram praticamente do Rage Against The Machine, uma masterclass que assisti do Tom Morello me levou a mais experiências assim nos riffs e um toque de Boys Noize, Tiga e Diplo pra não perder a linha (mais ainda). A sorte é que estamos em 2022 e a definição dos equipamentos de estúdio fizeram o som inovar e bater forte de uma maneira ainda pouco explorada no mundo, os LoTons de 808 com Overdrive disputando espaço com a linha de baixo que sobe para o Lead e desce para o groove deixa claro o nível de experimentação e loucura que gostamos.
Pra fechar, um arranjo de big room para as nossas melhores gigs e um buildup de extremo tensionamento, também inspirado no Rage, porém já previamente testado em diversas tracks nossas.
HM – O uso dos sintetizadores traz muito essa ideia de distorção para a track. Quais synths vocês usaram? Como foi o processo de criação da faixa, no geral?
Acho que já pincelei esta explicação na pergunta anterior, mas complementando, basicamente usei meu synth mais antigo, um Doepfer e gravei uma grande linha de baixo e lead usando muito Glide, no nível de jam session livre e depois sampleada e re-sampleada na loucura mesmo. Vou usar uma frase do meu guitarrista favorito, que usava a guitarra como tocadisco: “mais vale saber usar muito bem poucos instrumentos e levá-los ao extremo com criatividade do que ter muitos instrumentos e fazer praticamente a mesma coisa com eles”.
O vocal é meu mesmo e é por grande parte inspirado em Anthony Rother e, consequentemente, Kraftwerk, mais uma vez usando o overdrive analógico do sintetizador Neutron e um vocoder do próprio Ableton. Um riff foi feito virtualmente no Bazille da U-he, ele imita um vocal que fica na base do som inteiro quase, batendo junto com o kick, é o único instrumento virtual de toda a track, justamente.
HM – Como foi a experiência de colaborar pela primeira vez? Podemos esperar mais músicas para o futuro?
Para mim foi como encontrar alguém com o mesmo gosto musical deste lado mais expressivo que eu tenho, uma liberdade bem difícil nos dias de hoje, a track tem uma mensagem forte e acredito que a gente tenha muito mais mensagens para passar no futuro, eu espero que role sim! Vou trabalhar para.