Entrevistamos Felipe Fella, artista carioca que está fazendo bonito na cena nacional

Por redação

Foto de abertura: divulgação

Grooves “invocados”, batidas carregadas de punch e energia, e uma grande paixão pelas pistas de dança. Tais aspectos, somados a um brilhante potencial criativo, fazem de Felipe Fella um produtor de respeito no cenário nacional. Ativo no cenário carioca, tanto através de suas produções que levam assinaturas da Loulou Records, Cr2 e Criminal Hype, tanto por meio de sua gravadora Molotov21, Fella é um nome frequente nos charts do Beatport e que acumula suportes de artistas do calibre de Roger Sanchez e Gene Farris.

E seu ritmo produtivo está longe de dar um “descanso”. De volta ao catálogo da Farris Wheel, ele está prestes a apresentar um novo single por lá, estreitando ainda mais seu relacionamento com a label de Gene Farris. 

Felipe Fella também contará com uma importante estreia em uma das gravadoras mais renomadas do circuito mundial, a CUFF Records, do Amine Edge & DANCE. Antes, porém, ele apresenta um single pela The Bedroom, da Grécia, participando do “VA Summer Edition com a faixa “You Know Anything”.

Batemos um papo com o artista carioca para conhecermos mais a fundo sobre o momento atual da sua carreira, detalhes dos últimos lançamentos e as novidades que estão por vir através do seu selo Molotov21.

HM – Olá Fella, tudo bem? Seu ritmo de produção durante o período de pandemia estava a todo vapor, com vários lançamentos saindo. Agora, com os eventos retornando aos poucos, está ainda mais intenso ou você tem priorizado outras coisas?

Fala, galera. Tudo ótimo, sempre é um prazer falar com vocês. Valeu pelo convite. O ritmo de produção continua a todo vapor, com certeza. O ritmo de lançamentos não diria nem que dei uma segurada, mas diminuí propositalmente a quantidade para focar mais na qualidade. Estou com o objetivo de lançar somente em labels grandes daqui para frente.

HM – Falando em retomada, já há algo no radar para Felipe Fella voltar a tocar? 

Por enquanto ainda não. Estou sobrevivendo à base de mix e master [rs]. Inclusive, quem estiver precisando desses serviços, é só me chamar nas redes sociais ou no meu e-mail.

HM – Como você enxerga o atual momento da pandemia no Rio? As pessoas têm adotado uma consciência maior em relação a isso? Ou ainda há muitas situações de descaso?

Difícil falar. O Rio é muito grande. Por exemplo, tem áreas onde vejo respeitarem mais os protocolos e tem áreas onde nunca teve quarentena em nenhum momento, nunca pararam as aglomerações e ninguém usa máscara. Acho que se as autoridades tivessem estipulado protocolos de como deveriam ser realizados eventos com música, por mais rígidos que fossem, muito disso teria sido evitado. Temos protocolos que permitem abrir bares, igrejas, teatros, bancos, academias, mas nada para lugares onde há música. Sem falar nas feiras e praias lotadas.

 

“Não sou negacionista, reconheço que falta muita consciência social nos cariocas, mas também reconheço que nosso setor está abandonado pelas autoridades”.

 

HM – Por segurança e respeito ao próximo, o melhor a se fazer então é ficar no estúdio, né? [rs] Conta pra gente o que você tem produzido ultimamente e quais as  próximas novidades em relação a lançamentos? 

Com certeza. É o que nos resta [rs]. Tenho três lançamentos assinados pela frente que tenho muita expectativa neles: um single chamado “The System”, na Farris Wheel, de Chicago (EUA), label do Gene Farris, que está programado para ser lançado no dia 3 de setembro; uma track chamada “This Game” na CUFF, da dupla francesa Amine Edge & DANCE com vocais originais gravados por mim, ainda sem data; e uma track chamada “You Know Anything” em um V.A. pela The Bedroom, da Grécia, que vai sair no dia 27 de agosto.

Tenho ficado 24h no estúdio, produzindo minhas músicas ou fazendo mix e master para alguns clientes, que é o que mais tem me ajudado a pagar as contas durante a pandemia. Nesse tempo, acredito que aprimorei essa parte e estou muito feliz vendo minhas masters sendo tocadas por nomes como Michael Bibi, Kevin Knapp, Nicole Moudaber, Classmatic, LouLou Players. Inclusive, a minha música que vai sair na Farris Wheel será lançada com a minha master. Se alguém estiver precisando de mix ou master pode me chamar nas redes sociais [rs].

HM – E como você chegou até a gravadora do Amine Edge & DANCE? Já existia um relacionamento prévio com eles?

Apesar de já ter contratado em 2012 o Amine Edge para tocar em uma festa em que eu era sócio no Rio de Janeiro, a QU4DRA, e de já ter tocado antes da dupla numa edição da Love Sessions em parceria com o Rider Weekends, na Marina da Glória, em janeiro de 2016, eu não conhecia eles pessoalmente e ainda não conheço. Por enquanto, conheço só o A&R da label [rs]. Quero muito conhecer os dois, sou muito fã.

Eu simplesmente enviei a minha demo no Dropbox da CUFF. Qualquer pessoa pode fazer isso. A música tinha um outro vocal, o A&R me enviou um e-mail dizendo que gostaram da música mas não gostaram do vocal. Respondi e combinamos que eu enviaria de novo a mesma música com outro. Então gravei um novo e dessa vez ela foi aceita.


HM – O som vai ser naquele estilo g-house, pelo qual a label ficou tão conhecida, ou será  um pouco diferente?

O g-house nada mais é do que um house ou derivado com alguma influência de rap, com alguns elementos musicais que geralmente são usados nesse gênero. Acredito que tenha alguma coisa disso sim na minha música que vai sair lá, principalmente o vocal. Mas não sei se chega a ser “classificado” como um g-house. Eu não costumo rotular os gêneros ou subgêneros das minhas músicas. Deixo sempre para a gravadora definir.

HM – Além da CUFF, você também mencionou a Farris Wheel e vimos aqui que o lançamento chega dia 3 de setembro. São várias labels de peso entrando no seu catálogo. Qual o segredo?

Não tem mistério. Tem que trabalhar muito, procurar melhorar, se superar, querer aprender algo novo sempre, ouvir muita referência, pegar feedbacks e saber ouvir com humildade, não se apegar a todas as tracks que você faz e saber selecionar as que realmente você deve enviar para as labels e para quais labels enviar, e o principal que é saber onde quer chegar e ter muita paciência e persistência. 


HM – Além de produzir tanto, você ainda divide sua rotina como masterizador, headlabel da Molotov21, instrutor de produção musical, você é uma pessoa bem organizada no dia-a-dia?

É muita coisa mesmo. Tem vezes que acumula tudo. Mas de umas semanas pra cá tenho conseguido me organizar melhor. O curso de produção musical fica no site www.felipefella.com.br, na época em que lancei realmente tomava muito tempo, porque ofereço para quem compra a possibilidade de tirar dúvidas comigo ou ter feedbacks diariamente. Mas ultimamente quase não tem me dado trabalho pois agora as vendas deram uma diminuída considerável, já que os vídeos são de 2018, gravados numa versão do Ableton Live que acho que só eu uso até hoje [rs].

Todos os conceitos ensinados no curso são aplicáveis em qualquer versão do programa ou até em outros DAWs. Mas pretendo gravar um curso novo muito em breve com novos conteúdos e com a nova versão do Ableton. Ainda esse ano, também acho que sai um sample pack em que estou trabalhando. A Molotov21 sim tem tomado bastante tempo, mas tem sido muito prazeroso voltar a trabalhar com meus amigos-irmãos, o Pedro Mezzonato e o Bernardo Campos. Temos recebido demos do Brasil inteiro e muitas do exterior, a label está com uns suportes muito legais desde que voltou à ativa, estou muito feliz e satisfeito com a nova identidade visual, com os lançamentos e o futuro da gravadora.

Para organizar o tempo e conseguir fazer tudo tenho separado um ou dois dias na semana para trabalhar somente na label. As mix e masters como disse anteriormente é o que tem me salvado nesta pandemia. Essas eu vou fazendo conforme vão chegando os pedidos dos clientes. Tenho produzido um pouco menos do que gostaria por conta disso, com certeza. Mas no momento não dá para escolher.

HM – Dá pra manter todas essas frentes funcionando no trilho sem enlouquecer?

Dá sim, com certeza. Quando a gente trabalha com o que ama tudo fica mais suave.

HM – E para quem quer subir o nível das produções com o seu curso, como faz? Você está recebendo novos artistas?

Todo mundo é bem-vindo, com certeza. O curso está disponível no site. É focado mais na prática do que na teoria. Nos vídeos vou explicando a teoria conforme vou fazendo as etapas. No início, acredito que essa foi a forma que mais me fez aprender os mecanismos, a “parte chata”, o know how, os atalhos, qual forma? Vendo outras pessoas fazendo e tentando fazer o mais parecido possível. Eu tentava imitar os caras e aprendia “por osmose”.

A pessoa que está aprendendo do zero não vai lançar a música que vai produzir durante o curso. Pode até acontecer, mas não é o objetivo. O primeiro objetivo é aprender. Funciona da mesma forma que copiar o quadro numa sala de aula. Você vai fazendo (copiando) e já vai automaticamente assimilando os conceitos, às vezes até de uma forma inconsciente. São 8h de curso em nove vídeo-aulas que a pessoa, ao pagar, tem acesso para assistir quantas vezes quiser.

Durante às 8h eu produzo e mixo uma música (tech house) do início ao fim, e a pessoa pode ver exatamente como faço cada etapa de cada processo.

HM – Essa galera que aprende com você, tem chance de lançar pela sua Molotov21? Como funciona a curadoria dela? 

Claro, com certeza. Algumas pessoas que compraram o curso no início de 2018, como o duo Drunk & Play, Douse, Rov, entre outros, estão lançando em várias labels gringas muito boas e conseguindo vários suportes de grandes nomes.

Todo mundo tem a chance de lançar na Molotov21, independentemente de ter feito o curso. Temos um e-mail onde o pessoal pode enviar as demos, que é o demos@molotov21.com. Ouvimos tudo o que chega lá e decidimos juntos, os três sócios, o que devemos lançar. Lançamos house, tech house, deep house, minimal, a única regra é que a música tem que ser boa.

HM – Inclusive tem um VA de 10 anos do selo chegando, isso? Dá pra adiantar o  que vem nele?

Verdade. Este ano a gravadora completa 10 anos e não poderia faltar um V.A. em comemoração. Ainda estamos na fase de ouvir e selecionar as demos e de convidar alguns produtores que gostamos para participar. Quem quiser pode e deve enviar para o demos@molotov21.com que ouviremos com o maior carinho. O lançamento deve ficar para o final do ano.

HM – Papo longo, então encerramos por aqui e pedimos para você deixar uma mensagem de incentivo para aqueles que estão entrando agora na cena. Valeu!

Valeu demais pelo papo, galera. Satisfação enorme trocar essa ideia com vocês. Tamo junto! Minha mensagem de incentivo para quem está começando agora é que não desistam, que não desanimem se nenhuma agência ou manager vier procurar vocês ou se vocês não conseguirem assinar em determinada gravadora. Que não parem nunca de querer aprender e evoluir, porque só depende de vocês.

“O mundo não é uma bolha e vocês não precisam agradar fulano ou sicrano ou entrar para essa ou aquela panela. Se você realmente quer aprender, estudar, trabalhar, ser persistente e não desistir, uma hora você vai conseguir chamar a atenção de pessoas muito maiores do que aquelas que você queria agradar inicialmente. E não critique o trabalho dos outros. Tudo tem um porquê e tudo tem o seu tempo. Faz o seu que o resto vem”.

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