Entrevista por Gabriela Loschi, com a colaboração e introdução de Lau Ferreira (Boreal Agency)
Foto de abertura: Fabian Leitner
Horário nobre do palco principal do Ultra Music Festival dificilmente tem erro, mas, provavelmente pela união não convencional e mais do que afinada entre dois dos DJs mais populares da atualidade — Claptone e Vintage Culture —, e pelo fato de termos, enfim, uma edição do festival de volta depois de uma lacuna de dois anos, a noite do último domingo em Miami pareceu ainda mais especial.
Antes de entregar o palco para David Guetta (penúltima atração do Mainstage, que, por sua vez, deixou o encerramento para nada menos que a volta triunfal de Hardwell), o alemão mascarado e a estrela brasileira mostraram uma sintonia incrível e fizeram uma pista completamente lotada — com muitos brasileiros, é claro, mas também com gente de todos os cantos do mundo — pular, cantar e vibrar com muita energia, embalados pela felicidade notória das duas atrações, que se abraçavam a cada virada.
Foto: Fabian Leitner
Hits como o remix de Claptone para “Cold Heart” (Elton John e Dua Lipa) e o de Vintage para “Love Tonight” (Shouse) foram disparados em meio a mashups e edits que combinavam muitas partes especiais da discografia dos artistas.
Pegando o gancho do back to back inédito, conversamos com o dono da label The Masquerade (que manteve a máscara o tempo todo) um pouco antes do set histórico, e aproveitamos para falar também sobre outros assuntos, como os shows recentes no Brasil, o álbum “Closer”, lançado em novembro, e as peculiaridades que envolvem sua música e os elementos lúdicos que a adornam.
HM – Como começou o seu relacionamento com o Vintage Culture? Como surgiu a ideia desse b2b, e como você encaixou a sua música com a dele?
Tudo começou há alguns anos, quando meu empresário começou a trabalhar com ele também. Então a ideia estava próxima, sabe? E não só musicalmente, porque ele também remixou “Just a Ghost” para mim. Era meio que uma ideia óbvia que ninguém tinha pensado ainda, até que alguém pensou nisso e foi tipo: “vamos tentar fazer isso no Ultra, porque vai ser algo grande. O Ultra está de volta depois de dois anos, e vai ser incrível no Mainstage”.
Foto: Fabian Leitner
HM – Vocês chegaram a preparar algo previamente?
Sim, claro, porque nós só temos uma hora. Então você tem que estar preparado.
HM – Como foi esse processo?
Ah, você sabe., nós separamos todas as nossas músicas favoritas em uma pasta, e então chegamos a uma ordem para elas que meio que fez sentido. E então trabalhamos em alguns pequenos edits, com acapellas, fazendo mashups entre nossas músicas e tal.
Então encontramos uma grande variedade de coisas que as pessoas talvez conheçam — músicas do Vintage Culture com vocais do Claptone e vice-versa. Você sabe, um pouquinho de coisas interessantes em alguns ótimos sons que são ótimos para a festa.
HM – Você falou agora de um remix que ele fez para você, e você também tem ótimos remixes — alguns enormes, como o feito recentemente para Dua Lipa e Elton John. Qual é a diferença de fazer um remix ou uma produção autoral? Qual você prefere fazer?
Eu gosto de ambos. Para mim, é mais fácil fazer um remix, porque você pode escolher o que quer remixar. Então todas as partes em que você não quer tocar, você não toca. É divertido pegar essas músicas e traduzi-las para a pista de dança — aquelas músicas que você realmente ama. E aí você ouve e pensa, tipo: “eu posso fazer um remix incrível com isso”. Talvez você erre às vezes, mas na maioria das vezes, você pode, sabe?
Já o seu próprio material tem que crescer ao longo de um certo tempo. Você compõe muito, você muda a música, muito mais do que num remix. Escrever uma música, para mim, é um processo mais longo, todas as melodias precisam vir de mim. Eu preciso ser muito mais criativo. Mas nesse caso estou me referindo a um álbum, porque acabei de compor “Closer”.
Para as tracks, o processo é mais espontâneo. Se estamos falando de uma faixa para as pistas, você tem uma ou duas boas ideias, e aí você tenta algo, e algo funciona e algo não. Então, basicamente, eu acho que você tem três maneiras de se produzir: o remix, a track e a canção que você mesmo escreve.
Foto: Fabian Leitner
HM – Falando sobre criatividade, você é um grande criador de música e de atmosferas lúdicas. Alguns outros artistas também tentam criar os seus próprios sinais como uma forma de branding, como você tem com a sua máscara e o próprio conceito da sua festa. Como você veio com tudo isso, e por que você acha que funcionou tão bem?
Eu diria que em primeiro lugar, a música precisa ser ótima. Se a música não for boa, se as ideias dentro da música não forem 100% convincentes, sedutoras, agradáveis, ousadas, emotivas, diferentes ou qualquer outra coisa do tipo para as pessoas, você pode se vestir como quiser, não vai fazer diferença.
É claro que minha aparência é intrigante, porque é um pouco diferente do convencional, e isso pode fazer com que o Claptone se torne mais conhecido, mas não acho que seja algo tão importante agora. É mais sobre a música mesmo. É assim que eu vejo.
HM – Então você cria toda essa atmosfera em volta da música. Tipo, você primeiro cria a música, e depois pensa nos elementos.
Eu não separaria tanto assim. Eu crio a música, e o universo do Claptone sempre cresce junto com a ideia. Como com a história em quadrinhos, o baralho de cartas, o boneco bobblehead. São ideias divertidas que agora tenho o dinheiro e o poder necessários para executar. Se alguém quiser comprar essas coisas, ótimo, mas não é como se eu fizesse um monte de mercadoria maluca para ficar super rico. Para ser sincero, não são tantos bobbleheads que eu vendo, sabe? Mas sim, eu tenho a liberdade de fazer isso, e acho que é bom expandir o universo do Claptone.
Foto: Fabian Leitner
HM – E o que vem pela frente agora? Você acabou de lançar o seu álbum, repleto de colaborações.
Ainda há dois singles do álbum para vir, com remixes incríveis. E depois disso, estão pra chegar novas faixas mais voltadas às pistas, nas quais estamos trabalhando — e também remixes aqui e ali. Isso para o verão [inverno no Hemisfério Sul].
Quanto a shows, o foco é definitivamente em Ibiza, porque a ilha também está fechada há dois anos. Vou trazer The Masquerade de volta à Pacha, e estou super empolgado. Vai ser todo sábado, acho que a partir de 14 de maio, e por 22 semanas ou algo assim — é bastante tempo [risos]. Vai ser uma temporada incrível, porque é como o Ultra: todo mundo está super ansioso para voltar aos festivais e eventos de dance music e, você sabe, apenas dançar e se divertir.
HM – Você já tocou no Brasil muitas e muitas vezes, mas no ano passado, você subiu o nível trazendo a sua festa Masquerade a dois lugares épicos, Arca e Green Valley. Como foi essa experiência?
O design do palco era incrível e tive muito a ajuda da Entourage, então foi ótimo — foi realmente um salto na produção. E é sensacional quando você tem casa cheia ou quase cheia. As pessoas estavam super animadas, e os brasileiros são sempre um público maravilhoso. Fiquei muito feliz.
HM – Última pergunta: se um artista que nunca tocou no Brasil te pedisse por algum conselho, o que você diria a ele?
Humm… eu não sou exatamente a pessoa que dá conselhos. Eu não sei.
HM – O que você diria se ele te perguntasse como é tocar no Brasil?
É ótimo. Ele deveria apenas ir com tudo e relaxar um pouco, e apenas olhar para a galera e curtir, você sabe, a conexão com o público. Quer dizer, no Brasil tem muita gente com muita energia e muita paixão por música eletrônica, então é ótimo para qualquer DJ tocar lá. Até porque alguns DJs menores têm uma base de fãs incrível só no Brasil, sendo mais populares lá do que nos próprios países de origem. Vocês são muito apaixonados, têm um público muito apaixonado.