Guy J Review: israelense apresenta seu lado mais sombrio em set de 5 horas

Por Jonas Fachi

Foto de abertura: Biah Art

As noites de Carnaval no Warung Beach Club historicamente são reservadas para artistas no auge da carreira. Ao longo dos anos os nomes escolhidos foram se alternando conforme o apelo do público e o momento de cada artista a nível local. Neste Carnaval de 2022, em sua segunda noite, o Templo trouxe Guy J para comandar o Garden em um set de 5 horas. O israelense passou de produtor genial que tocava junto de grandes DJs, para efetivamente um artista tão respeitado quanto os mestres do seu estilo. Isso passa essencialmente pela criação da label Lost&Found em 2012.

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A gravadora se tornou nesses 10 anos talvez a principal no mundo dentro do segmento e responsável pelo lançamento de diversos produtores de renome. Se um dia Guy j foi uma aposta da Bedrock de John Digweed, hoje é ele quem dá as cartas apostando em novos nomes para ajudar a preservar a relevância do estilo que ajudou a renovar. Não obstante, nada disso faria sentido, se ele como DJ também não tivesse dado passos em direção a excelência. Aqui, encontramos outro ponto de virada em sua carreira, que é quando passa a dividir line ups com Hernan Cattaneo e consequentemente começa a ser convidado a fazer b2b com o lendário DJ argentino. Hernan se transformou em uma espécie de mentor para Guy J no que tange comando, controle, imposição e construção de set. Por indicação de `El Maestro`, há alguns anos ele deixou de tocar com controladoras de estúdio e adotou os clássicos setup mixer pioneer + 4 CDJ de última geração. Parece algo trivial, mas para DJs de alto nível, é preciso atuar da mesma forma que os precursores sempre fizeram. Nesse ponto, irei voltar mais adiante.

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Foto: Biah Art

Para o warm up foi escolhido o residente ZAC, que é um dos artistas mais dedicados da atualidade para entregar uma pista pronta a um artista como o proposto. Ouvi a última meia hora do catarinense, que detinha um Garden atento e com sede por imersão. ZAC foi perfeito, deixando apenas o gostinho de fechar os olhos, afinal, seu papel não era criar conexões extremas, mas sim manter a pista dançando dentro de sons com melodia e ritmo mais leves para quando a estrela fosse assumir, pudesse obter um impacto mais perceptível. Pude acompanhar o baixinho em uma entrevista para o aftermovie do clube e nela relatar seu foco no estúdio durante a pandemia, isso me animou, pois sabia que muitas das bombas que ele vinha apresentando em seu programa live Echos seriam jogadas ali. Iriamos receber o melhor do artista nos últimos dois anos. O resultado não poderia ser outro. Vamos a ele.

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Foto: Biah Art

Guy J sobe na cabine sob aplausos, eu particularmente prefiro ver caras que tocam sons emotivos no Inside, que é onde a mágica acontece, porém o SS do Garden estava fantástico, alto, limpo e pesado. Não da para comparar com a reverberação de cima, porém, estava bom o suficiente para um transcender coletivo. Em sua introdução, Guy J escolheu um conjunto viajante celestial, sem batidas e com um vocal em mantra. O primeiro falar vem da música “Positive Change” de Federico Puentes, porém ele apenas rippou o vocal e pôs em mashup junto de algum edit. Foram seis minutos de introdução que acumularam uma energia imensa na pista, quando finalmente virou para uma música com batidas, a pista explodiu! Era o início de uma sequência avassaladora de ritmo non-stop. Se tem algo que ele mantém distancia, isso é de breaks sem baterias.

Sua primeira hora trouxe sons tribais, sérios e com obscuridade, que aliás, é um lado de sua personalidade que tem tomado conta dos seus sets. Destaques vão para seu alter ego Cornucopia em “The Other Side of the World” às 01h20 e também em “Nōpi” com “Liquid Week” e remix de Hrag Mikkel & Pambouk.

A segunda hora ganha um pouco mais de velocidade quando joga uma de suas tracks do momento, com “Tree Of Live”, sendo reconhecida de imediato pelos fãs.

Nesta segunda hora, o ponto alto chega com outra autoral – Ac/ Dc às 02h40. Música que os admiradores aguardavam e que tem um poder frenético de levantar todos pondo a euforia no centro da pista.

Nesse momento, eu já tinha me dado conta que estava vendo uma nova versão do gênio israelense, abraçando os elementos misteriosos, macabros, com grooves e viagens um pouco mais rasas, sem perca de tempo para grandes introspecções, na verdade ele mantinha uma brisa consistente e um ritmo intenso; sendo claramente seu objetivo principal.

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Foto: Biah Art

Roy Rosenfeld com “Force Major” fecha a segunda hora, onde vemos a pista completamente tomada por uma energia contagiante. Sabe aquela sensação de que nada vai dar errado? A confiança no DJ é tão grande que todos podem simplesmente se entregar de corpo e alma, pois sabem que das suas mãos será entregue aquilo que tanto esperam.

Suas mixagens eram sempre uniformes, com encaixes sofisticados, tempos alinhados e jogos de efeitos para compensar possíveis percas de energia. Hernan é um mestre quando se trata de fazer mixagens espetaculares que se transformam em um novo break, mais curto e impulsionador; Guy J absorveu perfeitamente esse conceito tocando ao lado do argentino.  Abaixo, uma das melhores faixas da noite, provavelmente de sua autoria, como boa parte do set.

A terceira hora começa com uma baixa de intensidade afim de buscar algo mais suave, como um respiro, que foi dado por apenas 3 músicas super emotivas, místicas e que fizeram todos se conectar de olhos fechados até uma explosão de novos elementos brilhante. Em outros anos, eu sempre mencionava como ele conseguia ir das trevas para os céus rapidamente, e como era incrível a forma que ele alternava isso durante toda a noite. Desta vez, o lado mais emocional se mostrou apenas nesses 20 minutos e na introdução. Todo o restante do set foi como uma espécie de cavaleiro das trevas ressurgindo uma música após a outra; eu que sou amante da obscuridade, estava em plenitude.

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Depois das 05h o ritmo era tão intenso que por momentos parecia que estávamos ouvindo um techno progressivo se misturando um progressive house a moda antiga, tamanha agressividade de groove e acordes subindo e descendo.

Nessa última hora, ele fez o movimento de acelerar ainda mais a pista. Como? deixando um hihat bem aberto de uma faixa rodar por quase 30 minutos em loop nas faixas seguintes; simplesmente espetacular. Abaixo a faixa Healer de Marsh com Guy J remix.

Nesse quesito quero abrir um parêntese. Meu amigo Sérgio estava fazendo seu trabalho de filmagem para o aftermovie do templo e havia me encontrado no meio da pista para falar “ele está tocando com 3, 4 canais abertos o tempo todo”. Guy J sempre gostou muito de usar loops desde os tempos do tracktor e controladora, porém, agora tocando com as CDJ, não imaginava que ele estava ainda melhor nesse quesito. Basicamente, você deixa um pedaço final da música (onde geralmente restam apenas combinações de baterias) tocando mesmo depois que mixou uma nova faixa, ou seja, uma música tocando normalmente, com um fundo da anterior para dar um preenchimento sonoro. Agora imagine que o DJ precisa mixar novamente, e o que ele faz? Mantém novamente o loop final da música e agora temos duas músicas em loops tocando por baixo, mais a música principal. Insano certo? Só que ele chegava a fazer isso com uma terceira música também!! Algo extremamente complexo, que obviamente ia se alternando conforme as três ou quatro músicas trocavam. Isso exige um nível de concentração, organização e técnica bem acimas da média!

Sabe aquela sensação da música nunca parar? Então, é com auxilio desses loops que isso acontece, que além de criarem camadas por baixo, servem para cobrir os breaks de algumas músicas quando caem limpos.

Às 05h23 Guy J simplesmente revive Trentemoller através da faixa “Physical Fraction” lançada em 2005. Não há o que falar dessa música, apenas sentir sua energia infernal dominando a mente de todos. Vale ressaltar ainda a genialidade de Trentemoller, que 17 anos atrás fez uma música que é mais atual do que nunca. Naquela época ele realmente estava muitos anos a frente do tempo. Uma pena ter se afastado das pistas.

“Last Standing” foi outra marcante às 05h30, uma faixa que foi feita para momentos assim; para atingir o ápice de um set, com um break mais longo e explosivo. Depois disso, eu imaginei que ele iria começar a baixar o ritmo e tocar sons mais emotivos novamente para fechar, afinal, tem dezenas de produções assim para escolher e relembrar. As músicas foram passando e nada! Era apenas on fire mesmo com o dia já claro. Literalmente as batidas viraram quase um techno lisérgico conforme podemos ver nesse vídeo abaixo.

Em seguida Guy J puxa algo mais transcendental, dando aquele último pico de energia. Entramos em um edit seu para nada menos que “Thriller” de Michael Jackson. Para fechar, um dos vocais mais lindos que ouvi nesse verão, através da faixa “The Pills Won’t Help You” da banda Chemical Brothers (Guy J edit). Que momento emblemático, uma faixa lendária que caiu como uma luva em uma noite de carnaval. Quando tudo parou, o sentimento comum era de uma certa flutuação somando-se a demasiado desconcerto mental.

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Foto: Biah Art

O que acabou de acontecer? Eu já não tinha dúvidas; era o melhor set que já havia ouvido dele. Mesmo não sendo no Inside, mesmo sendo apenas 5h. Foram horas em que a todo instante houve vibração e cenas de incredulidade por parte dos velhos amigos curtindo ao meu lado.

Eu sempre quis ver um artista indo do seu início até seu auge como DJ que faz sets incontestáveis, ou seja, que 99,99% da pista de dança vai entender e destacar como um ponto alto do ano. São poucos os DJs da geração atual que conseguem entregar uma experiência singular e histórica do início ao fim quando se compara com as lendas dos anos 90. Guy J é um deles, depois desse ajuste para bpms mais elevados e a opção por focar em seu lado mais obscuro, ele provavelmente está atuando no seu melhor nível. Consegue agradar um público acostumado a techno progressivo, e ainda mantém os fãs mais antigos de house progressivo. Parece que ele encontrou uma fórmula sonora perfeita durante a pandemia e agora lhe renderá alguns anos como um artista no auge e capaz de comandar com autoridade qualquer pista do mundo. De fato, temos um novo camisa 10, que volte em breve!

Confira playlist completa aqui!

(English Version)

Guy J Review – ISRAELIAN SHOWS HIS DARKER SIDE IN 5 HOUR SET

Carnival nights at Warung Beach Club have historically been reserved for artists at the height of their careers. Over the years, the names chosen alternated according to the public`s appeal and the moment of each artist at the local level. This 2022 carnival, on its second night, the temple brought in Guy J to run the Garden in a 5-hour set. The Israeli went from being a brilliant producer who played with great DJs, to effectively an artist as respected as the masters of his style. This essentially involves the creation of the Lost&Found label in 2012.

The record company became in these 10 years perhaps the main in the world within the segment and responsible for the launch of several renowned producers. If Guy j was once a bet by John Digweed`s Bedrock, today he is the one who calls the shots, betting on new names to help preserve the relevance of the style he helped to renew. However, none of this would make sense, if he as a DJ hadn`t also taken steps towards excellence. Here, we find another turning point in his career, which is when he starts sharing line-ups with Hernan Cattaneo and consequently begins to be invited to do b2b with the legendary Argentine DJ. Hernan became something of a mentor to Guy J when it came to command, control, enforcement and set building. By indication of “El Maestro“, a few years ago he stopped playing with studio controllers and adopted the classic pioneer mixer + 4 CDJ set-up of the latest generation. It sounds trivial, but for top-notch DJs, you have to act the same way the forerunners always did. At this point, I will come back later.

For the warm up, resident ZAC was chosen, who is one of the most dedicated artists today to deliver a ready-made dance floor to an artist like the one proposed. I listened to the last half hour of Catarinense, who had an attentive Garden with a thirst for immersion. ZAC was perfect, leaving only the taste of closing eyes, after all, his role was not to create extreme connections, but to keep the floor dancing within sounds with melody and lighter rhythms so that when the star was about to take over, it could have a more noticeable impact. I was able to accompany the little guy in an interview for the club`s after movie and in it report his focus on the studio during the pandemic, this cheered me up, because I knew that many of the bombs he had been presenting on his live show Echos would be thrown there. We would get the best from the artist for the last 2 years. The result could not be different. Let`s go to him.

Guy J goes up to the booth to applause, I particularly prefer to see guys playing emotional sounds on Inside, which is where the magic happens, but Garden`s Sound System was fantastic, loud, clean and heavy. Can`t compare with the reverberation from above, however, it was good enough for a collective transcend. In his intro, Guy J chose a heavenly traveling ensemble with no beats and a mantra vocal. The first talk comes from the song “Positive Change“ by Federico Puentes, but he just ripped the vocal and put it in a mash-up along with some edit. It was 6 minutes of intro that accumulated immense energy on the floor, when it finally turned to a song with beats, the floor exploded! It was the beginning of an overwhelming streak of non-stop pace. If there`s one thing he stays away from, it`s breaks without batteries.

His first hour brought tribal sounds, serious and with obscurity, which by the way, is a side of his personality that has taken over his sets. Highlights go to his alter ego Cornucopia in “The Other Side of the World“ at 01:20 and also in “Nōpi with “Liquid Week“ and remix by Hrag Mikkel & Pambouk.

The second hour gains a little more speed when he plays one of his tracks of the moment, with ‘’Tree Of Live’’, being recognized immediately by the fans.

In this second hour, the high point arrives with another author – “Ac / Dc“ at 2:40 am. Music that admirers have been waiting for and that has a frantic power to lift everyone up, putting euphoria in the center of the dance floor.

At that moment, I had already realized that I was seeing a new version of the Israeli genius, embracing the mysterious, macabre elements, with grooves and slightly shallower trips, without wasting time for great introspections, in fact he kept a consistent breeze and an intense rhythm; clearly its main objective.

Roy Rosenfeld with “Force Major” closes the second hour, where we see the garden completely taken by a contagious energy. You know that feeling that nothing will go wrong? The trust in the DJ is so great that everyone can simply surrender body and soul, as they know that what they expect so much will be delivered from his hands.

His mixes were always uniform, with sophisticated fittings, aligned tempos and effects sets to compensate for possible energy losses. Hernan is a master when it comes to making spectacular mixes that turn into a new, shorter, more boosting break; Guy has already perfectly absorbed this concept playing alongside the argentino.

The third hour starts with a low intensity in order to seek something softer, like a breath, which was given by only 3 super emotional, mystical songs that made everyone connect with their eyes closed until an explosion of new brilliant elements. In other years, I would always mention how quickly he managed to go from darkness to heaven, and how amazing it was the way he alternated it throughout the night. This time, the more emotional side showed only in those 20 minutes and in the intro. The rest of the set was like a kind of dark knight resurfacing one song after another; I, who am a lover of obscurity, was in fullness.

After 5 am the rhythm was so intense that for a moment it seemed that we were listening to progressive techno mixing with old fashioned progressive house, such aggressive grooves and chords going up and down.

In that last hour, he made the move to speed up the room even more. How? letting a wide open hihat of one track run for almost 30 minutes in loop on the following tracks; Simply spectacular. Below is Marsh`s track Healer with Guy J remix.

I want to open a parenthesis on this point. My friend Sérgio was doing his filming work for the temple`s aftermovie and had met me in the middle of the dance floor to say “he`s playing with 3, 4 channels open all the time“. Guy J has always liked to use loops since the days of the tracktor and controller, however, now playing with the CDJ, I didn`t imagine he was even better in this regard. Basically, you leave a final piece of music (where usually only drum combinations are left) playing even after you`ve mixed a new track. Now imagine that the DJ needs to mix again, and what does he do? Keep the final loop of the song again and now we have 2 songs in loops playing underneath plus the main song. insane right? But he even did it with a third song too!! Something extremely complex, which obviously alternated as the 3 or 4 songs changed. This requires a level of concentration, organization and technique well above average!

You know that feeling when the music never stops? So, it is with the help of these loops that this happens, which in addition to creating layers underneath, serve to cover the breaks of some songs when they fall clean.

At 05:23 Guy J simply revives Trentemoller through the track “Physical Fraction“ released in 2005. There`s nothing to talk about this song, just feel its hellish energy dominating everyone`s mind. It is also worth mentioning the genius of Trentemoller, who 17 years ago made a song that is more current than ever. At that time he really was many years ahead of his time. It`s a pity to have strayed from the tracks.

“Last Standing“ was another highlight at 5:30 am, a track that was made for moments like this; to reach the apex of a set, with a longer and more explosive break. After that, I figured he would start to slow down and play more emotional sounds to close, after all, there are dozens of productions of him to choose from and remember. The songs were playing and nothing! It was just on fire even with the day already clear. Literally the beats became almost a lysergic techno

Then Guy J pulls something more transcendental, giving that last surge of energy. We entered an edit of him for nothing less than Michael Jackson`s “Thriller“. To close, one of the most beautiful vocals I`ve heard this summer, through the track “The Pills Won`t Help You“ by the band Chemical Brothers (Guy J edit). What an iconic moment, a legendary track that fit like a glove on a carnival morning. When it all stopped, the common feeling was of a certain fluctuation adding to too much mental bewilderment.

What just happened? I no longer had any doubts; it was the best set I had ever heard from him. Even though it`s not Inside, even though it`s only 5 hours. There were hours when there were vibrations on the part of old friends enjoying themselves by my side.

I`ve always wanted to see an artist go from his beginnings to his heyday as a DJ who makes undisputed sets, meaning that 99.99% of the dance floor will understand and put it as a highlight of the year. Few DJs of the current generation can deliver a unique and historic experience from start to finish when compared to the legends of the 90s. Guy J is one of them, after this adjustment to higher BPM`s, the option to focus on his side darker he`s probably acting his best level. It manages to please an audience used to progressive techno, and still retains older progressive house fans. It looks like he found a perfect sonic formula during the pandemic and it will now earn him a couple of years as an artist at his peak and capable of commanding any dance floor in the world with authority. In fact, we have a shirt 10 player, coming back soon!

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