No dia do Empreendedorismo Feminino, conheça 11 empreendedoras que inspiram na música eletrônica

Por Iasmim Guedes

“Essa parada de empreender não é coisa pra menina”, disse alguém que não tem a menor noção da revolução que essas minas fazem no mercado de entretenimento. 

A força e eficiência das mulheres nos negócios se expande em vários setores industriais, como no varejo com a Luiza Helena Trajano (presidente do Conselho de Administração do Magalu), ou no agro com Lucia Borges Maggi (cofundadora do Grupo André Maggi, um dos maiores produtores do agro brasileiro), no mercado da beleza com Julia Petit (co-founder e CCO da empresa de cosméticos Sallve), e por aí vai.

Um estudo feito pelo Sebrae a partir de dados do IBGE, revelou que no 3º trimestre de 2022 o número de mulheres donas de negócios chegou a 10,3 milhões e a quantidade de empresárias gerando empregos subiu 30%. Dados do Global Gender Gap Report do ano passado, do Fórum Econômico Mundial, apontam que a porcentagem de novas empreendedoras no Brasil aumentou 41% enquanto entre os homens o crescimento foi de 22%. 

Na música eletrônica a roda também não gira sem elas, não sei se você sabe, mas muitas agências, mídias, casas noturnas e festas, são de empresárias ou tem a mão delas por trás. Clubes como o CAOS, gravadoras como a OMNES Records, revistas como a House Mag, agências como a BOREAL, a Welike Digital e a Alliance Artists, entre tantas outras marcas, são comandadas por fortes mulheres da cena.

É claro que não podemos negar que o mercado em geral ainda é um espaço predominantemente dominado por homens, mas as mulheres vêm se destacando cada dia mais e em várias áreas dentro da cena. 

Mas porque estamos falando isso tudo? 

É que neste dia, 19 de novembro, é celebrado o Dia do Empreendedorismo Feminino, e queremos homenagear as mulheres responsáveis pela expansão da cultura da cena eletrônica pelo Brasil, e convidamos algumas delas para contarem sobre seus aprendizados empreendendo na música. 

Amanda Godoy e Mariana de Godoy 

Foto: Krys Freitas

Amanda Godoy é sócia fundadora da Welike Digital, agência de Marketing & PR especializada no mercado de música eletrônica. Com formação em Administração pela Unesp, Comunicação e Negócios pela FH-Wien, Áustria e MBA em Marketing pela FGV, atua há mais de 6 anos no empreendedorismo, já tendo atendido muitos dos principais nomes da Dance Music nacional, como Illusionize, Curol, VINNE, Felguk, Leandro Da Silva, Silver Panda e muitos outros, além de trabalhos especiais para lançamentos de artistas brasileiros em colaboração com ícones como David Guetta, Hardwell e Dillon Francis. 

Também trabalha ativamente na promoção de lançamentos diversos das gravadoras nacionais e internacionais mais influentes do cenário global, como Future House Music, Revealed Records, Spinnin’ Records, Smash The House, Bunny Tiger, Elevation Music Records, HUB Records e outras.

“Empreender na música eletrônica como mulher é uma jornada repleta de aprendizados profundos e transformadores. Para mim, está claro que nossa força não reside apenas em superar barreiras, mas em reconhecer que já avançamos significativamente, apesar de ainda não sermos a maioria. A presença feminina cada vez maior neste mercado é prova de que, ao contratar uma empresa liderada por mulheres, contrata-se também um compromisso profundo não só com a arte, mas também com o respeito e a integridade em todos os aspectos do negócio, inclusive com a gestão financeira. São as mulheres que buscam mais qualificações educacionais e também são elas que têm um olhar cuidadoso e 360° em tudo que envolve a gestão estratégica de um projeto artístico. Estamos redefinindo o panorama da música eletrônica, provando que todas as vozes têm o poder de ressoar e transformar, independentemente do gênero.” afirma Amanda.

Socióloga, especialista em Marketing e Planejamento Estratégico com vasta experiência na indústria da música, Mariana Godoy também é sócia fundadora da Welike Digital, agência de Marketing Digital & Assessoria de Comunicação especializada em música eletrônica e sócia da Nomadj.co, produtora e coletivo de gestão artística e de gravadoras. Ao lado de grandes profissionais, suas empresas já atenderam muitos dos principais nomes da Dance Music nacional, como Illusionize, Curol, VINNE, Felguk, Leandro Da Silva, Silver Panda e muitos outros, além das gravadoras nacionais e internacionais mais influentes da cena, como Future House Music, Revealed Records, Elevation Music Records e outras.

“Minha principal lição na indústria da música eletrônica é a importância da confiança – em mim mesma, no meu trabalho e na minha equipe. Este mercado, como muitos outros, é dominado por homens, apresentando desafios únicos para nós, mulheres. Conquistamos espaços significativos, tanto nos palcos quanto nos bastidores, mas ainda há muito a ser feito para aproveitar plenamente nosso potencial. A excelência no trabalho não é suficiente; é vital reconhecer e unir forças para superar barreiras de gênero e tantas outras que surgem no dia a dia da profissão. Um objetivo essencial que carrego é chegar a um momento onde a presença de mulheres em posições de liderança seja uma realidade constante no mercado, deixando ser apenas um assunto pontual a ser debatido. Aprendi também a valorizar nossas vitórias, para quem sabe assim reduzir a força dos obstáculos. E se eu puder expressar um desejo: eu espero que as futuras mulheres na indústria encontrem um ambiente de colaboração e apoio mútuo, essencial para o crescimento e a transformação do cenário. É este objetivo que me motiva a trabalhar diariamente, buscando um futuro onde todas as mulheres tenham voz e espaço para prosperar na indústria.” revela Mari. 

Ana Paula Figueiredo

Foto: Divulgação

Com uma carreira bem-sucedida de duas décadas atuando como advogada especializada em Propriedade Intelectual e Direito Digital, Ana Paula decidiu explorar novas perspectivas no mundo da música eletrônica. Começando com a fundação de uma editora, ela avançou para o lançamento de uma gravadora, a OMNES Records, e, mais tarde, para o gerenciamento de carreiras artísticas de DJs e produtores musicais. Sua experiência como advogada trouxe uma abordagem única para a gestão de carreiras artísticas, aplicando conhecimentos sólidos para proteger e promover os talentos que cuida.

A mudança não foi apenas uma escolha profissional; foi uma transformação de vida para Ana Paula.

“Aprendi que a paixão pela arte e a busca pela excelência são poderosas ferramentas. Empreender na música requer habilidade técnica e determinação. Desenvolver meu trabalho e persistir diante das adversidades foram lições valiosas” diz Ana Paula. “Ser mulher empreendedora na música envolve desafiar normas e reivindicar seu espaço com confiança. O palco da música eletrônica não é apenas um local de performances exuberantes, mas sim um terreno fértil para a revolução artística e empresarial.” finaliza Ana.

Claudia Assef

Foto: Sidinei Lopes

Claudia Assef é jornalista de música, trabalhou nos principais jornais, revistas e sites brasileiros, entre eles Folha De S. Paulo, do qual foi correspondente internacional em Paris, e O Estado de S. Paulo, onde manteve uma coluna musical, entre outros. É autora dos livros “Todo DJ Já Sambou”, “Ondas Tropicais” e “O Barulho da Lua”. Esteve envolvida na curadoria de eventos como Sónar São Paulo, Skol Beats, Nokia Trends, Motomix, Virada Cultural, SP na Rua, festival SOMA, Dia da Música Eletrônica de São Paulo 2018 e 2019, Absolut Nights, New Faces on The Block, Território Hip Hop, ASA (British Council e Oi Futuro), entre outros. é sócia-fundadora do WME – Women’s Music Event – projeto com foco na mulher na muúsica, incluindo uma conferência e uma premiac¸a~o anual e esta´ a` frente do site Music Non Stop, um dos sites de mu´sica e cultura pop mais relevantes do pai´s. Claudia é desde 2019 coordenadora do Centro Cultura Olido em SP, onde em abril de 2021 inaugurou a Galeria do DJ, primeiro espaço público da América Latina dedicado ao universo da discotecagem. Claudia tambe´m é DJ e produtora musical.

“Meu maior aprendizado sendo mulher empreendedora da música é entender que o mercado apesar de parecer desconstruído, por trás deste verniz de modernidade, ele é muito conservador, machista e que diminui — até que inconscientemente —  a importância da mulher na história, e vemos isso historicamente desde anos 50 — com o apagamento da Sister Rosetta Tharpe, onde todo mundo fala que o rock foi inventado por Elvis e Chuck Berry, quando na verdade o crédito deveria ser dado devidamente para Sister Rosetta. Não só nos Estados Unidos, mas no Brasil também de compositoras geniais como Chiquinha Gonzaga e  Dona Ivone Lara. Então esse apagamento da mulher, essa diminuição da importância da mulher dentro da música é algo que eu aprendi ao longo de muitos anos, porque primeiro você pensa que as pessoas que trabalham com música devem ser desconstruídões, mas não é bem assim ainda, infelizmente. Ainda vemos erros brutais de condutas, curadoria, objetificação da mulher, então é um mercado que de longe parece ser uma coisa super moderna, mas de perto vemos que ainda temos um longo caminho” expressa Assef. 

Eli Iwasa

Eli Iwasa no Gate 22, em Campinas. Foto: Recreio Clubber

Quando se fala em música eletrônica nacional, Eli Iwasa é logo mencionada, seja por seu pioneirismo ou pelo feito de se manter ativa nesta cena há mais de 20 anos. Para além dos palcos que já pisou como DJ, entre eles Rock in Rio, Lollapalooza, BOMA e Time Warp, brasileira é sócia de 5 empreendimentos de sucesso. Em 1999 assumia as noites de sexta-feira do Lov.e Club, a Technova, em 2007 re-inaugurou o saudoso Clube Kraft. Em 2011 Eli inaugurou o Pianno Club, no antigo salão social do Jockey Club Campineiro, um embrião do que viria a ser o Club 88 dois anos depois. Um dos clubs mais conceituados do interior de São Paulo, o CAOS, foi inaugurado em 2011 por Iwasa, que também é sócia da Galeria 1212, do Písta 2001 e do recém-inaugurado, Gate 22. 

“O maior aprendizado é confiar em você mesma e no seu trabalho. Não dê bola pra tudo que falam. Temos todas as respostas que precisamos dentro de nós. Aprendi também que, sendo mulher, sempre vou ter meu trabalho julgado, criticado e questionado. E que a melhor resposta sempre foi trabalhar ainda mais e usar isso como uma mola propulsora.” afirma Eli.

A japa completa dizendo que “O mais importante é descobrir sua verdade, quem você é, e ser fiel a si mesma e seus objetivos. Não ter pressa, para que as conquistas cheguem na hora certa, quando estiver pronta para elas.”

Gabi Loschi

Foto: Divulgação

Jornalista de formação e especialista em marketing digital, Gábi Loschi foi editora-chefe do portal digital da House Mag de 2016 a 2018, período em que foi indicada ao prêmio de Melhor Jornalista Especializada pelo BRMC, e quando a revista recebeu mais um prêmio de Melhor Veículo Especializado. Fundadora e CEO da The Boreal Agency e Boreal Music Academy, realiza assessoria de imprensa e posicionamento de mercado para alguns dos principais artistas e eventos da cena musical, além de ministrar cursos de gestão de carreira, marketing, branding e lançamento musical estratégico. Mentora, ajuda centenas de artistas a crescerem na música com estratégias desenvolvidas ao longo de mais de uma década. Já foi diretora de marketing de startups, fundou seu próprio site em Nova York, e viajou o mundo cobrindo festivais e escrevendo para veículos como Folha de São Paulo.

“São muitos aprendizados no empreendedorismo feminino, mas algo latente é que precisamos nos impor e acreditar em nosso potencial, para nós mesmas e para o mercado. Estamos em uma área ainda muito masculina e acostumada a dar vozes majoritariamente a homens, o que pode intimidar. Porém, percebo que as mulheres têm seu jeito especial de liderar e trabalhar, cuidando de tudo ao seu redor com bastante vigor, comprometimento e competência. E quando nos unimos e conseguimos apoiar umas as outras, há uma energia muito forte que nos move para frente.” afirma Gabi.

A também sócia da gravadora OMNES Records completa contando sua experiência como mulher empreendedora na cena, revelando situações que já passou.

“No início da Boreal já aconteceram fatos de pessoas, inclusive gringos, responderem melhor os e-mails do meu sócio no início da agência, e ele mesmo reparou e falou comigo sobre isso, como o machismo está encrustado nas pequenas coisas. Quando passei a tocar a empresa sozinha como mulher cheguei a desacreditar que eu conseguiria e que o mercado iria me respeitar, pois uma mulher muitas vezes precisa se provar para além dos seus resultados. Mas tudo deu certo, caminhando passo a passo sem pressa e construindo tudo com consistência e seriedade. Quando acreditamos em nós e deixamos nosso potencial fluir, o respeito vem e os resultados que entregamos normalmente são acima da média.”

Jeniffer Avila

Foto: Fran de Campos

Natural de Campo Grande/MS, Jeniffer Avila trilhou uma jornada internacional ao morar por 13 anos em Nova York. Durante esse período, destacou-se como sommelier e bartender, desenvolvendo uma apurada sensibilidade para o universo das bebidas. Mãe do Iago e da Ianna, atualmente, é a CEO da revista House Mag, consolidando-se como uma influente figura na cena musical eletrônica. Como produtora de renome, assina eventos icônicos, incluindo o “Winter Music no Greenvalley” e a mágica “Magic Island”

“Um aprendizado como mulher empreendendo na música eletrônica foi o desenvolvimento da confiança e autoafirmação. Ao enfrentar a indústria, aprendi a acreditar em minhas habilidades, a superar dúvidas e a me posicionar com firmeza. Aprendi também, o quão importante é apoiar outras mulheres, e também ser apoiada por elas.” reitera Jeni.

Jode Seraphim e Bruna Antero

Foto: Divulgação

O We Go Out surgiu como um projeto de duas amigas apaixonadas por festas, festivais de música e viagens. O amor foi tanto que Jode e Bruna decidiram tornar seu estilo de vida em uma empresa. As amigas acreditam que, ao compartilhar suas experiências, são capazes de transmitir essa paixão e inspirar seus seguidores a viverem realidades semelhantes.

O trabalho da dupla é traduzido através de guias, agenda de eventos, conteúdos e comunidades criadas para que as pessoas possam ter acesso às informações e aproveitar ao máximo, ter benefícios exclusivos e participar de grupos com pessoas que têm a mesma energia.

“Depois de 10 anos trabalhando no mercado corporativo, decidimos empreender em 2016 e, mesmo com a experiência profissional que já tínhamos, aprendemos que são mundos muito diferentes. Primeiro foi necessário entender qual era o nosso propósito e depois desenhar um business que conseguisse ser sustentável, mesmo que num médio ou longo prazo.” revela Bruna.

“Resiliência foi a palavra que definiu os primeiros anos do We Go Out, pois ainda estávamos aprendendo como o mercado do entretenimento e da música eletrônica funcionavam e tivemos alguns contratempos por não sermos levadas tão a sério por sermos duas mulheres na liderança. Mesmo assim, seguimos firmes, dando nosso melhor. Depois da pandemia conseguimos nos estruturar e ter uma equipe que, mesmo que enxuta, tem pessoas que amam o que fazem. O maior desafio atualmente é estar sempre se reinventando e conquistando nosso espaço de forma consistente no mercado.” finaliza Jode.

Ju Cavalcante

Foto: Divulgação

Conhecida como a primeira-dama da e-music no Nordeste, e considerada uma das melhores produtoras de eventos – representando bem a ala feminina no segmento – Juliana Cavalcanti trabalha há 19 anos no ramo, sendo responsável por grandiosos festivais em Pernambuco – King Festival é um deles devido a expertise da pernambucana. Juliana é responsável por trazer para Pernambuco grandes nomes, como David Guetta, Armin Van Buuren, Hardwell, Martin Garrix, Tiesto, Dimitri Vegas e Like Mike, Alok, Vintage Culture, entre tantos outros colocando o Nordeste na rota das grandes turnês dos TOP DJs internacionais. Sob o comando de sua produtora Reality, criou um novo festival chamado Noronha Weekend com grandes atrações nacionais e entra no calendário anual do arquipélago de Fernando de Noronha em outubro além do pós réveillon na ilha.

“A mulher sempre vai precisar se provar muito mais do que o homem devido a cultura do nosso país, porém quando ela quebra essa barreira ela se firma no mercado com muito mais respeito e força que os homens, principalmente porque a nossa entrega é especial por causa dos detalhes, organização e envolvimento.” salienta Ju.

Priscila Prestes 

Foto: Divulgação

Profissional ativa no mercado da música eletrônica brasileira há 20 anos. Sua primeira agência de DJS, a 24bit Management, foi aberta em 2011, cuidando da carreira de um número limitado de artistas, sendo grande parte produtores curitibanos em ascensão. Em 2016 Priscila Prestes iniciou junto com Dani Souto e Manolo Neto a Discoteca Odara, que se tornou um dos grandes pilares da cena underground de Curitiba. Em 2017, da fusão da 24bit com a Analog, surgiu a Alliance Artists – uma agência com projeção nacional e internacional, que cuida da carreira de mais de 20 artistas, além de responsável pela curadoria do Warung Beach Club em Itajaí. Logo após a pandemia, iniciou o trabalho como manager da artista Eli Iwasa, e juntas criaram a Closer – festa que busca equalizar a presença feminina em line ups, assim como o re.source – um projeto que busca juntar artes visuais e música em uma experiência imersiva.

“Meu maior desafio e aprendizado é sobre resiliência. Eu desconfio de resultados rápidos, eles normalmente também são fugazes. As pessoas vão te subestimar, você será tão descreditada a ponto de começar a duvidar de suas próprias ideias e capacidades. Responda tudo com trabalho. Se cerque de pessoas que têm valores parecidos com os seus, isso é mais importante do que a ilusão de parcerias férteis. Estude, seja curiosa, ouça o que os mais novos têm a dizer, mas também compartilhe a história de como chegamos até aqui. Não acredite que você chegou ao seu destino, cada conquista abre possibilidades para objetivos que você nem sabia que poderia sonhar antes. Aproveite a jornada :)” aconselha Pri.

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