Por Isabela Junqueira
Foto de abertura: Fernanda Petrillo
“Ayó” é o mais recente lançamento de Ekanta via Vagalume Records. Em colaboração com Thales Dumbra e as crianças de Muzumuia, uma aldeia de Moçambique, a produtora oportuniza aos ouvintes uma mistura contemporânea de chamados da natureza com harmonias sintéticas em cinco minutos e meio de música.
O nome da faixa significa “alegria” em Yoruba e compõe o segundo álbum de Ekanta, batizado de “Vozes”.
Nesta sexta, 19, ela lançou o segundo single em antecipação, “Awavena”. Conversamos com a produtora sobre a nova faixa, que de quebra nos deu uma “palinha” sobre o compilado que em breve chega às plataformas. Confira!
HM – Olá Ekanta, obrigada por aceitar trocar uma ideia conosco. Você é pioneira no psytrance em territórios tupiniquins. Em um trabalho que perdura por mais de 20 anos, como você encara o atual cenário e de quais formas ele influencia as suas composições atuais?
Estamos voltando de tempos difíceis, está todo mundo precisando de cura, de alegria e esperança. Nesse tempo em que ficamos confinados, voltei a me conectar com medicinas sagradas e cura através do som, e é essa a essência que está me influenciando e me guiando atualmente.
HM – Incrível o trabalho que você e o Thales entregaram, integrando esse vocal das crianças na música e até sons de animais. Como foi o processo criativo da música até chegar ao que ouvimos hoje nos streamings?
Eu e Thales fizemos juntos três tracks para o Vozes, essa foi a terceira e a que fluiu mais rápida e suave, pois a gente já estava em sintonia musical, estávamos inspirados! Começamos com o tema das vozes das crianças e fomos deixando rolar, então as ideias “brotaram”.
HM – “Ayó” tem uma linda tradução! Quer falar um pouco sobre a definição do nome e esse significado? Tem relação com o que você quer transmitir nesse período de retomada?
Eu pedi pra um guia meu, o Pai Andre, algumas ideias de nomes em Yorubá, algo relacionado a crianças, erês e alegria…e dele veio o nome “ohun Ayó”, que significa “Som de alegria”, e isso é o que há 23 anos busco transmitir com minha música, fazer as pessoas se sentirem melhores e mais felizes depois de a ouvirem.
HM – Você entrega aos ouvintes a faixa como uma espécie de “degustação” do que vem por aí. O que fez de “Ayó” a escolha exata pra isso?
Ela é uma track que traz a mensagem de força e alegria, caminhos se abrindo, tanto para esse projeto, quanto pra gente nesse momento. Não sei você escutou, mas ela fala em “liberar ” e traz a proposta do albúm bem nítida, com a pegada groove do psy.
HM – Conta pra gente um pouquinho sobre o estabelecimento conceitual do álbum que vem aí!
Não tive um conceito prévio estabelecido, as coisas foram surgindo, as ideias vindo, as vozes soando e várias situações acontecendo no país em relação a floresta amazônica, as terras indígenas, o momento que estamos passando, tudo foi se conectando quase que organicamente, uma coisa foi puxando a outra. Ele é um álbum de collabs com vários amigos produtores, tem um pouquinho do amor de cada um de nós pela música e pela nossa cultura.
HM – Seu último álbum foi lançado em 2014 e recentemente você também se aventurou por sons noturnos, não é mesmo? O que podemos esperar diante dessa evolução constante que você vive?
Eu espero evoluir me aventurar sempre, senão acaba a graça, né? Mas o engraçado é que o álbum tem uma pegada bem parecida com “Raízes Eletrônicas”. A gente evolui muda, vai e volta mas não se desconecta da essência, que afinal é o que nos move.
HM – Exaltar povos étnicos é beber de fontes culturais muito poderosas, mas que também requerem uma responsabilidade gigantesca, não é? Como você lida com esse processo?
Exatamente! E é um caminho sério que trabalha muitos tipos de energia. Tento trazer pra minha arte um pouquinho dessa sabedoria, fazendo minha parte com consciência, somos tão pequenos perto deles! A música e as plantas sagradas são fontes de cura verdadeira, Se eu conseguir expressar pelo menos um pouco disso através da minha arte, estarei honrando a importância dessas culturas, em breve saberemos.
HM – Por fim, mas não menos importante, você é uma referência feminina poderosa em um nicho majoritariamente másculo. Como você interpreta esse papel e a importância dele pra um futuro mais equilibrado? Obrigada pela conversa Ekanta!
Obrigada pela parte que me cabe “referência feminina poderosa” [rs]. Sempre fui atrás dos meus sonhos e não dou muita importância ao fato de ser mulher, afinal somos seres humanos e se você acredita no que quer e acredita ser capaz de alcançar, você vai conseguir! Mas talvez por ser uma pioneira no cenário da e-music no Brasil e estar até hoje na ativa, pode trazer a mensagem de que sim, mulher também consegue!
Espero dar exemplo para que novos e futuros talentos femininos sigam em frente e tenhamos um equilíbrio maior na cena.