Por redação
Foto de abertura: divulgação
A inserção de um sample do clássico “Jonathan da Nova Geração” em sets da DJ russa Anfisa Letyago reacendeu a velha polêmica sobre funk e techno. Afinal, os gringos valorizam mais a música brasileira do que nós? As batidas e as letras do funk cabem dentro da música eletrônica? É feio ou é bonito?
A verdade, caros leitores, não é e nunca será exata. Vai de cada um. Estamos falando, acima de tudo, de gosto musical. E talvez o grande xis da questão esteja nessa tendência de acharmos, via de regra, que o nosso gosto é o bom e o dos outros é o ruim.
E não se trata de um debate apenas no espectro da dance music. Quem nunca teve (ou foi) aquele amigo roqueiro que acha que tudo que não é o bom e velho rock’n’roll não presta?
Da mesma forma que diversos setores da sociedade acham que música eletrônica não é música – até hoje! (Pensem nisso, hehe)
Mas por que diabos as pessoas realmente acreditam nisso? Botamos nossa redação pra quebrar a caixola e trazer pra vocês quatro hipóteses que explicam esse eterno embate tão apaixonado quanto vazio.
1. Arrogância
Ah, a arrogância musical! Não importa se você é um aficionado por techno, um devoto da house clássica ou um adepto fervoroso do trance, todos acreditamos piamente que somos donos da verdade quando o assunto é música — especialmente, quando sentimos que nossa relação com aquele estilo é mais profunda.
De alguma forma, acreditamos que nossos ouvidos são abençoados com a capacidade de discernir a verdadeira genialidade musical, enquanto todos os outros estão simplesmente perdidos em suas preferências inferiores.
2. Efeito manada
Se tem algo que as pessoas gostam de fazer é se agrupar em tribos. E a música não escapa dessa regra. Ao encontrar indivíduos que compartilham dos mesmos gostos musicais, nossos egos inflamam como balões de festa. Em nossos grupos, somos os reis e rainhas da música, os juízes supremos da melodia. E, é claro, todos os outros estão completamente errados. Afinal, se alguém ousar discordar do nosso “hino sagrado”, seremos implacáveis em nossa tentativa de convertê-los à “verdade musical”.
3. A influência do ego
Nossos gostos musicais se tornam uma extensão de nossa identidade. É como se, ao afirmar nossa paixão por um determinado gênero, estivéssemos construindo um escudo protetor para nossa própria personalidade. A música se transforma em uma espécie de símbolo tribal que nos separa dos outros e nos torna especiais. Dessa forma, é inevitável que defendamos nossos gostos com unhas e dentes, como se nossa própria existência dependesse disso.
4. O mito da superioridade intelectual
Pra fechar, não poderia faltar a famosa certeza de que nossos gostos musicais superiores são um reflexo de nossa superioridade intelectual. Acreditamos que nossa escolha de música complexa e intelectualmente desafiadora nos coloca em um patamar acima dos mortais comuns que se satisfazem com o “lixo comercial”.
Nos sentimos obrigados a provar que nossos cérebros superdotados apreciam apenas obras-primas musicais, enquanto os outros estão perdidos em suas letras rasas e melodias grudentas.
“Pobres almas devoradoras de lixo, ainda não foram salvas pelas batidas sagradas de John Digweed…”
No final das contas, o debate é muito mais sobre nossas relações com nós mesmos e com o mundo (nossas inseguranças, crenças limitantes e necessidade de ser especial e pertencer a um grupo) do que sobre a música em si.
Agora conta pra gente: o seu gosto musical é melhor do que o dos outros?