Review: Sasha em long set voltado para os fãs Warung Beach Club

Por Jonas Fachi

Foto de abertura: divulgação

O ano de 2022 iniciou para o Templo da música eletrônica e já em sua segunda festa recebeu um dos principais nomes de sua história: Sasha! A proposta foi repetir o sucesso de janeiro de 2020, quando o artista entregou um set espetacular como não fazia há anos na Praia Brava. Alexander Paul Coe também atende uma demanda de turistas e fãs que já estavam no litoral catarinense desde o dia 28 com Hernan Cattaneo. Poder ver dois pioneiros do house progressivo e pertencentes ao roll de maiores DJs de todos os tempos em menos de 10 dias é um privilégio, fazendo com que muitos argentinos permanecessem por aqui por mais tempo, além claro de tirar de casa clubbers de outras gerações para prestigiá-lo.

foto_2_500.

Sasha é um dos principais nomes dentro da construção da identidade do clube e sempre terá seu lugar reservado, afinal, passe o tempo que for, ainda será o cara que detém o título de “melhor set da história do Templo”, executado durante o carnaval de 2006. Para essa noite em que ele completou mais de 15 anos desde sua estreia, o galês veio preparado para tocar nada menos que 6 horas! Definitivamente é um DJ feito para long sets, duas horas não são capazes de fazê-lo se soltar e mostrar todo seu arsenal sonoro. Declarado como um de seus favoritos no mundo, Sasha sempre fará um esforço para abrir suas pastas mais secretas de músicas no Warung.

Cheguei próximo do horário e fui atrás do camarim para ver se conseguiria outra foto com ele. Era 23h30, e ele chegava junto com um grupo de ingleses que já havia marcado presença na noite de Hernan. Ele ficou um pouco distante em meio a escuridão, aguardando o tempo passar enquanto fumava um cigarro. Me causou calafrios e uma sensação de medo ao sentir que um dos meus ídolos estava ali, a poucos metros, pronto para iniciar mais um set carregado de expectativas.

foto_3_500.
Sasha – Foto: divulgação 

Não é todo dia que você tem a oportunidade de ver e ouvir de perto um cara que ajudou a construir tudo que está aí. Sim, me refiro a cena eletrônica como um todo. Alguém que ajudou a inventar um estilo, reinventou a discotecagem, quebrou paradigmas na produção e foi o primeiro DJ do planeta a ser considerado um superstar lá no início dos anos 90 no Reino Unido.

Talvez muitas pessoas que estavam na pista, nem faziam ideia de quem estava por aparecer, porém a vida de um artista é assim mesmo, você está sendo desafiado a romper com o novo a cada ciclo geracional, mostrando porque é quem é e eventualmente ganhando novos corações.

foto_4_500.
Fell Reis e Sasha – Foto:divulgação 

Eram quase meia noite e me dirigi a pista com um casal de amigos, eles estavam tão ansiosos quanto eu. Fell Reis havia baixado o ritmo ao ponto ideal para o horário e para o tipo de música que viria a seguir.

Sasha inicia com um deep tech sombrio, a pista estava completa, ainda que não lotada, espaços bons para curtir e os tons em vermelho davam um clima de tensão. 

foto_5_500. 
Sasha – Foto: divulgação

Seus inícios de set são sempre enigmáticos, nebulosos e a pista precisa confiar na construção para lá na frente compreender e receber a redenção. Depois da primeira hora em ritmo baixo, ele começa a subir o bpm. O primeiro destaque ficou em “Link In Your Chain”, de DJ Mark Brickman. Uma faixa de house com um remix ID deixando o vocal chamativo original levantar a pista. Logo em seguida Nican Feat. Joy Tyson com remix de Unders & Noraj Cue às 01h50 trouxe um sintetizador hipnótico com um vocal africano elementar.

Sundae Driver com a faixa “Remcord” Às 02h35 me colocou a pensar “que track incrível”, através de uma melodia distante, porém sem força para manter o ritmo na pista.

Vanco com “La`Ville” em sequência é outro exemplo de músicas no meio da noite que te colocavam em um sentimento de drama, aflição e delírio. Eu comentei com um amigo nesse momento que – “isso era som para gente grande”. Música para fãs de Sasha em seu estado mais puro de classe obscura.

foto_6_500. 
Sasha – Foto: divulgação

Naji Arun em “Para Siempre” às 03h trouxe um tom mais emotivo, com um vocal lindo e que fez todos fecharem os olhos. Frankey & Sandrino com “Boson” vem para mostrar que a consistência e cadencia iria se manter mesmo após 03h de set.

Às 04h o ritmo e os elementos vão para um novo momento entre um techno progressivo lisérgico, denso, com batidas pesadas e hi hat picados atravessando de um lado para outro. Popof com “Serenity” e remix de Booka Shade entra para ser auge desta construção. Essa faixa foi a melhor da noite e séria candidata a track de 2021. Ainda, como é bom ver esse duo (Booka) que influenciou toda uma geração e a mim em especial voltando a produzir em alto nível.

Lexer com “Felina” às 05h soprou para o lado do mais puro house progressivo, com aquela linha de baixo gorda fazendo notas e rasgando o decay por baixo, junto de harmonias viajantes indo para um momento de plenitude. Que faixa!!

Em seguida, Sasha jogou a nova produção da lenda brasileira Renato Cohen, intitulada “Meltin”. Uma faixa que foi escolhida a dedo para ser o ponto máximo da energia explosiva em uma construção longa – a faixa entrega isso.

foto_7_500.
Sasha – Foto: divulgação 

Já era possível sentir o amanhecer e então Sasha começou a levar o som para momentos mais emotivos, um verdadeiro estágio de transe mental que ele historicamente propõe em seus sets no sunrise do Templo. Eu diria que nesse momento ele trouxe faixas lindas, porém parecia que a conexão com a pista não estava no seu melhor – se compararmos com 2020 por exemplo, ficou distante. Porém, para quem é fã, só o fato de vê-lo propondo musicas com alma e que provavelmente você nunca mais irá ouvir na vida, é um grande deleite.

foto_8_500. 
Sasha – Foto: divulgação

Dusky em “Hildegard” às 05h20 veio para trazer os primeiros sentimentos de dia amanhecendo, uma faixa que remete aos anos 90 no auge da cena clubber.

Butch com “Abandonne-toi” (Ft. JAW & AVRA) às 05h45, o que dizer dessa música? Uma das melodias mais lindas que já ouvi, capaz de te transportar para qualquer lugar no passado ou futuro, pois, músicas assim, fogem de qualquer padrão, modelo, conceito ou época. Dois vocais em francês que poderiam ser tranquilamente parte de uma trilha de filme ambientando alguma situação nostálgica em Paris. Eu fiquei simplesmente paralisado, com um sentimento profundo de gratidão por ter a oportunidade de ao lado de amigos, presenciar um dos maiores DJs de todos os tempos destilando seu amor pelo Templo ao separar algo altamente sensorial para esse momento. Uma daquelas faixas que nascem para ser clássico instantâneo. 

A ideia desse set era dar uma aula de techno e house progressivo de pura classe, dark, lisérgico, e com um final emocionante, para quem estava ali por ele, aconteceu isso, para um publico mais turístico, parece-me que faltou mais energia. Eu compreendo e concordo que ele poderia ter acelerado mais a partir das 03h.

foto_9_500. 
Foto: divulgação

Talvez com esse novo momento de techno “big room” a 130 bpm que se impõe as novas gerações, um set mais cadenciado, pensado e introspectivo fique faltando um algo a mais. Porém, tenho certeza de que é exatamente em noites assim que se evolui musicalmente, tanto para quem está chegando agora, como quem tem anos de pista e já ouviu de tudo. É preciso que os DJs desafiem seus públicos a mergulharem em construções complexas, e ninguém melhor do que uma lenda para fazer isso. Sasha não toca o óbvio, não toca muitos artistas conhecidos, ele te apresenta coisas novas, produtores escavados nos locais mais distantes.

foto_10_500. 
Sasha – Foto: divulgação

Banco De Gaia em “Obsidian” com mix de Framewerk como penúltima track, abriu um vocal celestial quase limpo, como se estivesse sendo cantado ali mesmo, quando surgiram as batidas em breakbeat, eu me senti completo em relação a ele. Sasha é um dos maiores produtores desse estilo, seus melhores álbuns como Involver e Airdrawndagger são nesse estilo. Seria como se fosse um house progressivo em baixo bpm e quebrado. Ainda coube mais uma faixa break para se despedir de todos. Definitivamente não foi um final em alta energia, super transcendental como em outros anos, porém não faltou emoção e estado contemplativo.

Tracklist:

DJ Mark Brickman – “Link In Your Chain” (Original Mix)

Nican Feat. Joy Tyson com remix de “Unders & Noraj Cue”

Sundae Driver – “Remcord”

Vanco – “La`Ville”

Naji Arun – “Para Siempre”

Frankey & Sandrino – “Boson”

Popof – “Serenity” (Booka Shade Remix)

Lexer – “Felina”

Renato Cohen – “Meltin”

Dusky – “Hildegard”

Butch – “Abandonne-toi (Ft. JAW & AVRA)”

Banco De Gaia – “Obsidian” (mix de Framewerk)

Deixe um comentário

Fique por dentro