Por assessoria
Foto de abertura: Kristian Beyer (Âme) e Steffen Berkhahn (Dixon) por reprodução
Em sua última abertura do ano, a ODD recebe dois expoentes do house que já pintaram anteriormente na festa e não são figuras alienígenas aos grandes eventos da cena nacional, mas que stream um formato inédito — ao menos de forma oficial — em terras brasileiras. Estamos falando de Dixon e Âme, pela primeira vez tocando em back to back por aqui.
O ineditismo não deixa de ser peculiar, já que o vínculo entre eles é praticamente indissociável, e o B2B é aclamado há mais de dez anos. Ainda mais inusitada é a história do DJ nascido na pequena cidade de Anklam, que até então integrava a Alemanha oriental, e a forma com que cruzou o caminho de dois artistas oriundos de Karlsruhe (cidade do sul do país) no começo dos anos 2000. Steffen Berkhahn, nome de batismo de Dixon, teve uma infância pobre vivendo em uma realidade que para a maioria de nós, talvez, seja inimaginável: a da Alemanha soviética.
Steffen Berkhahn aka Dixon – Foto: divulgação
Até os 14 anos, seu foco era basicamente o futebol — e o futuro era promissor. Porém, uma lesão grave interrompeu o sonho de se consagrar como jogador profissional. O destino reservava uma surpresa: aquele moleque completamente desinteressado por música descobriria um novo universo, repleto de possibilidades, a partir da queda do muro de Berlim.
“Basicamente, quando a nova Alemanha começou, eu também tive um novo começo na minha vida, porque eu não podia mais praticar esportes. Aquilo foi triste, mas ao mesmo tempo uma oportunidade incrível, especialmente em Berlim, devido à vida noturna. Com a queda do muro, houve uma explosão de música underground e muitas oportunidades surgiram. Eu estava prestes a completar 15 anos, e mergulhei de cabeça na música”, contou à própria ODD em 2017.
Aos 16, já devidamente entrosado à efervescente cultura clubber berlinense, o garoto já começava a carreira como DJ, seguindo um caminho de fama e reconhecimento dentro daquela bolha underground — nos anos 1990, consolidou-se como o grande DJ de house do pedaço. Mas foi depois de uma década que as coisas começaram a escalonar para patamares que ele sequer imaginava.
Pegando carona ao aeroporto com um rapaz chamado Kristian Beyer — que conhecera anos antes nas pistas de dança, vendendo discos dos sucessos que cativavam o público de suas gigs —, ele se impressionou com uma música que tocava no carro. Era “Tonite”, uma das primeiras produções de Beyer com outro jovem, Frank Wiedemann. Steffen trabalhava como A&R para uma label chamada Sonar Kollektiv, e não pensou duas vezes: assinou o primeiro lançamento da dupla. Nascia, assim, o Âme.
Com tantas criações apaixonantes, o trio passou a constituir uma espécie de “santíssima trindade” da house music alemã. Berkhahn, Beyer e Wiedemann nutriam gostos e visões muito similares, que eram peculiares à época. Na música, não apenas funcionalidade, ritmo e hedonismo, mas também uma grandiosidade cinematográfica, através de melodias e harmonias mais coloridas. Na visão artística, uma busca incansável pelo mais alto padrão de qualidade, bem como pelo diferente, arriscado e inovador. Esses são os pilares que fizeram da Innervisions, a label multiplataforma que fundaram em 2005 (que inclui gravadora, label party, agência de bookings, loja de discos e distribuidora), tão cultuada no mundo todo.
Como selo, as diretrizes são claras: não mais do que meia dúzia de releases por ano, com sons que todos os três precisam amar. Foi a partir da Innervisions que nomes como Recondite, Henrik Schwarz, Culoe de Song, Marcus Worgull, Tokyo Black Star e Trikk ganharam notoriedade. Mas, claro, o núcleo não se resumiria a lançar músicas. Em 2012, surgia a Lost In A Moment, série de eventos que ajudaria a tornar Dixon e Âme ainda mais idolatrados.
A proposta sempre foi ousada. As locações precisavam ser em lugares inusitados, como praias, ilhas, castelos e museus, fugindo do tradicional circuito de clubes — conceito que hoje está estabelecido, mas não era tão comum à época. Em 2014, inclusive, a primeira edição fora da Europa foi no Cais da Imperatriz, no Rio de Janeiro, onde os alemães estavam para curtir in loco sua seleção vencendo a Copa do Mundo.
Dixon, Davis (ODD), Beyer (Âme), Henrik Schwarz e um amigo curtindo o 7×1 – Foto: reprodução
O objetivo nunca foi o de trazer algo diferente simplesmente pelo hype, mas porque entendem que essa é a maneira de proporcionar os momentos mais especiais, épicos e memoráveis às pessoas — e também a eles próprios. Não à toa, a label party literalmente chama-se “perdido em um momento”, em tradução livre para o português. Nesse contexto, os DJs têm a oportunidade de se inspirar por paisagens diferentes e percorrer caminhos alternativos, às vezes até experimentais.
A experimentação, inclusive, é fundamental para os sets de Dixon, que procura surpreender o público com passagens “estranhas” em cada um deles, ao menos por alguns minutos. Trata-se de um artista raro em um cenário clubber de tanta ostentação como o que temos hoje. Apaixonado de forma quase obsessiva por uma rotina intensa de gigs, ele se vê muito mais como um DJ, de fato, do que como um produtor musical — ofício que é o que, basicamente, tem dado status e fama aos profissionais do ramo. E mesmo com poucas produções, ele conseguiu ser eleito o DJ número um do Top 100 do Resident Advisor por quatro anos seguidos, até o seu encerramento em 2017.
Frank Wiedemann e Kristian Beyer formam o Âme – Foto: divulgação
O Âme, por outro lado, é o casamento perfeito entre o gênio criativo e o realizador. Wiedemann é o coração das músicas do duo, enquanto Beyer dirige e canaliza toda a criatividade do parceiro ao seu resultado final. Nas pistas, assumem papéis separados: o primeiro toca as apresentações em formato live, mais raras, enquanto o segundo representa o projeto como DJ. Nos escritórios da Innervisions, Berkhahn junta-se a Beyer na gestão de projetos e tomada de decisões.
A partir dessa sincronia de equipe, com funções complementares e germanicamente delineadas, que o trio se consagrou com tantas criações apaixonantes nos últimos 15 anos. Músicas, sets, performances, eventos e experiências inigualáveis, que percorreram o planeta e serviram de referência para uma infinidade de artistas e profissionais do mercado.
É com essa bagagem que Dixon e Âme (representado por Beyer, como de praxe) vêm a São Paulo no próximo dia 26.
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