Por: Gabriela Loschi
Foto de abertura: @wfiletti
CEO e fundador da conceituada Be On Entertainment, Edu Poppo é dono de um currículo invejável na indústria do entretenimento de música eletrônica. São mais de 20 anos de experiência, tanto nos palcos, como DJ, quanto nos bastidores. Com a parceria dos sócios Du Serena e Silvio Conchon, sua agência já produziu eventos como Tribe Festival, Warung Tour, Afterlife e Circoloco, trabalhou com marcas como Heineken, Red Bull e Pernod Ricard, e trouxe DJs como Claptone, Solomun e Boris Brejcha.
Depois de uma drástica ruptura provocada pela pandemia, a Be On vem esquentando os motores e assumindo a responsabilidade por projetos cada vez maiores. No último sábado, 11, o duo italiano Mathame foi a principal atração em evento do luxuoso Hotel Unique, em São Paulo, que promoveu o lançamento do S.O.M Festival — festival marcado para rolar no Carnaval, entre 25 de fevereiro e 1º de março, nas deslumbrantes praias de Trancoso/BA, com atrações do calibre de Seth Troxler, Patrice Bäumel, Bedouin, D-Nox e Damian Lazarus (os ingressos já estão à venda).
Ao lado da DJ e produtora alemã-jamaicana Melanie Ribbe (que também será atração do S.O.M) e dos brasileiros Ab & Hamy e o próprio Edu Poppo, Mathame substituiu Jamie Jones, que estava escalado originalmente, mas acabou não podendo comparecer por ter testado positivo para covid-19, bem à época de sua tour pelo Brasil. Em evento lotado, Poppo aproveitou a ocasião para celebrar o seu aniversário em meio à atmosfera melódica e extremamente dançante e poderosa criada pelo duo italiano e todos os artistas escalados no line up.
“Infelizmente, Jamie Jones testou positivo para o COVID-19 e, por questões de segurança, não pode cumprir sua agenda no Brasil. Apesar dele apresentar sintomas leves e se recuperar bem na época, optamos por fazer o correto. Felizmente, conseguimos substituir o DJ e produtor britânico pelo o duo sensação do momento da label Afterlife, os italianos MATHAME, que já estavam em turnê pela América do Sul. Nossa maior preocupação era manter o respeito ao público em trazer uma grande atração internacional e tentamos manter a proposta da festa, mesmo que com uma diferente sonoridade. Não é fácil ter que retificar tudo em menos de 48 horas do evento, mas acreditamos que essa mudança manteve a proposta de criar a melhor experiência para os fãs de música eletrônica e celebramos a data com muita alegria e conexão do início ao fim”, celebra o anfitrião.
Com classe, turismo, requinte e experiências para além da música (massagem, gastronomia, conforto, intimismo, entre outros), o rolê foi ao encontro da proposta do S.O.M, que tem no bem-estar e na alta qualidade dois de seus pilares.
Além disso, a Be On encara o desafio de recuperar o prestígio do aclamado festival holandês DGTL em terras brasileiras, depois de edições que ficaram marcadas por problemas na organização e estrutura.
Tudo isso e mais um pouco foi abordado no bate papo incrível que batemos com Edu. Confira:
HOUSE MAG – Edu, há quanto tempo vocês vinham idealizando o S.O.M Festival, e o que motivou a criação desse evento?
EDU POPPO – Há dois anos. Antes da pandemia, eu, o Du (Serena) e o Silvio (Conchon) já estávamos pensando em fazer o festival. Iria ser em 2021, aí passamos para 2022. Teve mais tempo pra estruturar o projeto como um todo, sendo destino de Carnaval, além da estrutura que Trancoso oferece: restaurante, hospedagem, pousada, é bem completo pro turismo.
Cada festa vai acontecer num lugar, com experiências diferentes, fugindo do tradicional destino de Carnaval, que remete ao Rio de Janeiro, com muita concentração nos bloquinhos, nos camarotes na avenida… Refletimos muito que a cabeça das pessoas com a pandemia pode mudar um pouco em relação à aglomeração, então pensamos em algo mais íntimo, um festival boutique para 700 pessoas, com 7 eventos, divididos em 2 eventos gastronômicos, 2 dias de beach club, 3 eventos open bar e algumas vivências.
HM – O nome sugere um conceito meditativo/reflexivo, e o release fala em “propiciar uma vivência que resgate a fonte de conexão interior de cada um de nós”. De onde surgiu essa ideia, e como essa vivência será proporcionada, na prática?
EP – Vamos ter experiências que se encaixam muito no pilar do bem-estar: yoga, meditação, soundhealing e alguns rituais que estamos formalizando e soltaremos em breve. Apostamos bastante em experiência.
Acho também que todo mundo, principalmente nós, do mercado de eventos, passou por um momento de reflexão para tudo, até pro nosso negócio. Então pensamos no que poderíamos fazer para as pessoas se conectarem um pouco, enxergarem o festival não só como algo musical. Antes, em destinos de Carnaval, você demorava uma semana para se recuperar; qual experiência você teve nesse destino? Por isso, pensamos muito na yoga, na festa ao ar livre… A ideia é tirar as pessoas do que vinham fazendo e propor algo diferente. Ser um destino em que a pessoa, ao retornar do festival, consegue lembrar do quanto ela bebeu, da música em si, mas também da experiência como um todo.
A gente se preocupou muito com esse pilar da experiência, do detalhe. Vamos fazer um festival com pouco lixo, usando pouco plástico, vamos deixar um legado para Trancoso.
Negociamos um pequeno porcentual com todos os nossos fornecedores, vamos doar pra uma ONG de lá que ajuda uma outra da cidade, vamos fazer um trabalho sério com crianças de Porto Seguro, workshops com alguns profissionais da nossa área para os nativos, um pequeno curso de DJ, porque não tem como só levantar a festa, desligar o botão e acabou.
HM – Como foi pensada a curadoria do S.O.M?
ED – A gente focou em artistas que musicalmente têm a ver com o evento, até o próprio estilo sonoro, trazer essa música mais orgânica pra dentro do festival. Começamos a trabalhar faz um bom tempo em conjunto até com outros clubes, pra tentar formar uma tour com esses artistas.
HM – Quando os ingressos serão disponibilizados? Pode nos adiantar algo em relação a valores?
EP – Iremos anunciar em breve. O pacote vai sair a partir de R$ 1.500,00. Terá também opção de comprar os eventos gastronômicos com as festas ou só as festas.
HM – A Be On Entertainment é uma das maiores agências de eventos do cenário eletrônico brasileiro, já tendo inclusive importado diversas marcas conceituadas do exterior, como DGTL, elrow, Circoloco e Summer Sessions. Por favor, conte um pouco mais sobre a história e trajetória da empresa. Quais são os eventos que você mais se orgulha em ter produzido?
EP – A gente (eu, Du e Silvio) se preparou muito pra ter uma retomada forte com nossos maiores artistas, e em cima deles, a gente monta os eventos. O Boris Brejcha, que a gente fez no Laroc, o Solomun, artista nosso, virá novamente, lançamos recentemente Jamie Jones, Afterlife…
Conseguimos na pandemia criar uma retomada com todos os nossos artistas, e com a entrada do DGTL também. Hoje a nossa maior missão é reposicionar o DGTL em 2022, que é um evento que foi traumático aí em São Paulo, e precisamos fazer uma retomada com o festival de acordo com o que ele é lá fora. Vamos entregar algo diferente das últimas edições — nossa responsabilidade está sendo muito grande com o público também.
HM – Como a pandemia afetou o seu negócio, e como vocês estão se preparando para uma eventual nova onda?
EP – Foram quase dois anos parado, e tudo isso acabou nos fortalecendo. Tivemos tempo suficiente para nos organizar da melhor maneira possível. O financeiro foi terrível pro nosso mercado, do fornecedor à limpeza até o cara que monta a estrutura, um choque de realidade muito grande. Não temos ótimas lembranças porque foi terrível, mas o lado bom é que a gente pôde se preparar melhor pro nosso retorno.
Eu não consigo enxergar uma nova onda, o Brasil está fazendo o seu papel, tá todo mundo se vacinando, temos uma operação grande. Diferente de muitos países, o povo aderiu à vacina, então se tiver algum impacto, vai ser muito menor do que tem acontecido lá fora.
Os protocolos estão funcionando. A festa O Circo, que rolou em 05 de novembro, foi praticamente o primeiro evento do retorno. As pessoas aderiram, mostraram comprovante das duas doses de vacinação, o controle foi rígido em relação a isso. Tava uma energia ótima; a felicidade das pessoas entrando no evento, desde os fornecedores voltando a trabalhar ao público voltando a sair.
HM – Edu, você divide sua carreira entre a produção de eventos, à frente da Be On, e a parte artística, como DJ e produtor. Como é exatamente a sua rotina de trabalho?
EP – É puxado! Não tem horário pra nada, você dorme trabalhando e acorda trabalhando, é full time. A gente tá com overflow de eventos, praticamente com um mês de diferença entre cada um, e isso consome muito mais o nosso trabalho em equipe.
Como DJ também, chega fim de semana, a gente tem tocado, então tem períodos de 20 horas de trabalho. Eu tô com um filho de um ano e cinco meses, mas a gente tá dando conta, com saúde.
HM – Que dicas você dá pra quem está produzindo eventos agora na retomada?
EP – Primeiro, quem tá se arriscando, tenha cautela, tá tendo overload de eventos, cerca de 15 por fim de semana, muitas opções, e a gente sabe o quanto custa. Tenha responsabilidade. Outro dia, um produtor de evento comentou comigo numa festa que eu toquei, que tomou uma baita ré. Tome cuidado pra não prostituir os eventos, pois sabemos quanto custa a produção. O VIP me incomoda um pouco, pode ser uma doença muito forte no nosso meio. Tem que se programar direito, com tempo. Você que quer entrar pro mercado, saiba que não é simplesmente só levantar o evento, é pensar no impacto que isso traz pra cena.
No período da pandemia, nos preparamos muito na empresa pra gente não se autoconcorrer. Eu que cuido mais da parte comercial e de PR do meu grupo, venda de mesas, então uma parte desse bolo são os mesmos clientes. Essa folga de estratégia de lançamento, de mesas e ingressos, é tudo de caso pensado. Se já ta encavalando, imagina o restante.
Do nosso lado, tô vendo o mercado mais profissional. Eu tô muito feliz. Vejo que as pessoas estão dedicadas em criar algo diferente, sair da mesmice, e vão ter que se profissionalizar mais.
HM – O que mais tem que fazer para se profissionalizar?
EP – A experiência conta muito. As pessoas têm que ter alguém pra se inspirar, olhar para grandes produtores, pesquisar muito, fazer algo que inspire — uma experiência que você teve numa festa —, e levar isso pro seu evento. Se foi bom pra você, vai ser bom pros outros. A pesquisa é isso, se pra você vai ser bom, pro consumidor final também.
HM – Quais os seus próximos passos, além de tudo o que já falamos aqui?
EP – S.O.M, DGTL, Tribe… Nosso maior desafio é, dentro do nosso próprio tempo, conseguir fazer algo extraordinário para todos. São eventos de grande porte, e estão demandando muito tempo nosso.
O maior desafio é a gente conseguir entregar o que estamos lançando de uma maneira 100% correta pra todo mundo.
HM – Obrigada Edu, sucesso em todos os empreendimentos, e nos vemos na pista :)
EP – Eu que agradeço!