Warehouse Connection: adeus a Paul Johnson, uma lenda da house music

Por Décio Freitas e Dudu Palandre aka Anhanguera

Foto de abertura: divulgação

É incrível como muitas das lendas da house music se vão cedo. Desta vez, perdemos Paul Johnson para a maldita Covid-19. O DJ e produtor faleceu na manhã da última quarta, 4, aos 50 anos, depois de semanas lutando contra o vírus.

Nascido na icônica Chicago, Paul foi um dos expoentes da segunda geração de artistas de house, que surgiu nos anos 90. Lançou centenas e centenas de obras nos mais de 30 anos de atividade, por selos como Defected, Dance Mania, Relief Records, Cajual, Nite Life, Peacefrog e Djax-Up-Beats, além da Dust Traxx, selo que fundou com Radek Hawryszczuk em 1997.

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Foto: divulgação

Seus dois primeiros álbuns, “Bump Talkin”, de 1995, e “Feel The Music”, do ano seguinte, são clássicos do estilo e já o preparavam para o sucesso global que viria em 1999, com o seu maior hit, “Get Get Down”. A música foi a #1 do chart Hot Dance Club Play, da Billboard, alcançou o primeiro lugar no Canadá e entrou entre as dez primeiras nos charts de singles no Reino Unido, Holanda, França, Grécia e Bélgica — além de ter permanecido por muitos anos como um hino das pistas. Foi uma daquelas músicas que, na era do rádio, nos deixou ainda mais apaixonados pela house music ao ver a força que uma faixa estritamente house alcançava tanto no universo comercial como no underground.

O americano também foi profundamente respeitado não só no universo da música eletrônica, como também da música em geral. Já remixou ou colaborou com nomes como Destiny`s Child, Steve “Silk” Hurley, Ce Ce Peniston, DJ Sneak, Joey Beltram e Green Velvet. Mas para além da sua arte, Johnson foi um grande exemplo de perseverança, superação e determinação.

Ainda adolescente, em 1987 — ano em que começou sua carreira como produtor (já era DJ desde os 13 anos de idade) —, uma bala perdida o deixou paralítico da cintura para baixo. Em 2003, complicações de saúde o levaram a ter de amputar a perna esquerda; em 2010, sofreu um acidente de carro, perdendo a perna direita. Nada disso o desanimou a ponto de desistir da vida como DJ e produtor, lançando músicas `nonstop` e viajando em turnês pelo mundo, até o fim.

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Foto: divulgação

Não à toa, sua página oficial, para comunicar o falecimento e homenageá-lo, colocou o trecho de um vídeo em que ele fala:

“Nunca deixei nada me segurar, nunca deixei nenhum tipo de experiência me deixar para baixo […]. Uma vez que tudo o que eu quero fazer, ninguém mais está no meu cérebro, então eu sabia que isso não podia me parar. Nem mesmo essa deficiência poderia me parar. Nada poderia. Eu simplesmente tenho isso em mim […]. É uma coisa de perseverança. Tenho certeza que nasci com isso”.


Seu legado, portanto, vai muito além da música, é uma lição de vida, uma história de superação fantástica. Uma pessoa que soube driblar as adversidades mais graves no seu corpo e seguiu com determinação, garra e vontade de viver. Em uma entrevista para outra gravadora de sua terra, a S&S Records, ele declarou: “Nunca penso em mim quando estou discotecando, apenas nas pessoas que estão na pista”; e também:

 

“A vida ruim que tive em termos de saúde, isso não foi nada. Tem sido apenas uma sombra para o que eu faço. Eu sequer a vejo, ninguém a vê. Tudo se trata apenas sobre a música”.

 

Paul Johnson influenciou milhões de artistas que vieram depois. O primeiro nome que o Daft Punk homenageou em sua música “Teachers”, do seu álbum de estreia, é o dele. Segundo a Wikipedia, os três ficaram amigos em 1995, com os franceses dizendo pessoalmente que ele foi uma das razões pelas quais eles começaram a produzir house. Naturalmente, foi uma grande influência também para nós.

Uma de suas últimas produções foi a música “Party All Night Long”, que saiu em EP de duas faixas em maio, pela Black Jack Records, cuja letra diz o seguinte: 

 

“Você se lembra de quando nós podíamos sair e curtir as festas a noite toda? Claro que sim! Foi há dois anos, em 2019, muito antes dessa merda de covid aparecer […]. Mas foda-se isso. Está acabando. As festas estão abrindo de novo, e os clubs estão abrindo de novo. […] E o underground voltou a ser `under`. E em breve você vai poder se vestir como você gosta, e andar com as pessoas que você ama andar […]”. 


Esperamos cumprir a profecia em breve, assim como temos certeza de que ele está podendo curtir tudo isso no céu. Abaixo deixamos algumas de nossas preferidas dele e finalizamos com um: descanse em paz, Paul Johnson!

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