Por Dudu Palandre e Décio Deep
Foto de abertura: divulgação
Você pode até não saber, mas, com certeza, já dançou ao som de alguma produção de Patrick Adams. Caso o nome não lhe soe familiar, o conselho é que fique aqui conosco até o final do texto. Agora, se você já conhece a importância dessa figura para a história da disco music, não vão faltar motivos para ficar por dentro da sua influência na house music também. Nesta edição da Warehouse Connection, homenageamos os 72 anos de vida e 50 anos de carreira dessa lenda da música underground, contando como suas criações atravessaram tempo e barreiras estilísticas, servindo como fonte de referência para DJs e produtores até hoje.
Para começar, é preciso entender, ainda que de forma resumida, seus feitos pela dance music. Negro e nascido no Harlem, em Nova Iorque, na década de 50, Patrick Adams cresceu embalado pelo soul e pelo funk, demonstrando desde muito novo o talento que possuia para criar música com a alma. Repletas sempre de arranjos sofisticados e elegantes, suas criações tinham como referência produtores clássicos como Holland-Dozier-Holland, Burt Bacharach e Tom Bell. Dessa forma, não demorou muito para começar a se destacar na indústria fonográfica de Nova Iorque, trabalhando como compositor e arranjador para gravadoras como Atlantic, Salsoul e Prelude.
Foto: divulgação
Sua carreira foi composta de altos e baixos, marcada por mudanças nas tendências musicais e, também, pelo racismo. Adams viveu momentos de glória, como A&R de importantes selos e orientador musical de projetos para artistas de diversos estilos, desde JJ Barnes do r&b até a cantora brasileira de samba e bossa nova, Astrud Gilberto. Porém, também passou alguns anos no anonimato, fechado em estúdio trabalhando sob demanda como engenheiro de som, produtor e compositor para inúmeros artistas. Em três anos, chegou a criar mais de 400 canções, e é assim que podemos começar a entender de que forma seu catálogo se fez uma das tramas principais na formação do tecido musical do soul, funk, disco e pós-disco underground nova-iorquino e, em seguida, mundial.
Feita a breve contextualização (sim, é possível seguir por horas citando apenas marcos em sua trajetória) de sua figura épica para a disco music, é hora de falar de house. Conhecido também como versão 2.0 da disco, não é nenhuma novidade que a house music nasce bebendo em fontes do passado, mais precisamente dos estilos bastante mencionados até aqui, do final dos anos 1970 ao começo dos anos 1980. Por isso, a genialidade de Patrick Adams ainda se faz tão presente. Nós, por exemplo, conhecemos essa lenda acidentalmente, através do house, com a música “Just Another Groove”, muito popular nos anos 90, que usa um sample de “Disco Juice”, clássico sucesso de Adams.
Daí para frente, tocar suas produções em festas se tornou rotina e o encaixe com a pista era sempre perfeito. Uma das músicas que marcou nossa carreira como DJs foi “Keep on Jumping”, que primeiramente chegou aos nossos ouvidos pela versão de Toddy Terry e anos depois tivemos a oportunidade de ter nas mãos o belíssimo Musique, vinil com a versão original, produzido por Patrick e com ninguém menos que Jocelyn Brown como uma das vocalistas.
Outro álbum emblemático construído por ele é “Cloud One – Atmosphere Strut”. O disco é a cara da “house music” e parece que nasceu para ser sampleado, o que de fato já foi feito por inúmeros artistas. E é exatamente essa habilidade que Patrick Adams possuía para criar melodias que podem ser usadas de formas inesgotáveis sem se tornarem monótonas ou repetitivas, que o fazem uma grande inspiração para tantos produtores até os dias de hoje e, em nossa opinião, crava seu nome com louvor também na história da house music. Se por acaso, você ainda não conhece esse gênio, deixamos aqui abaixo algumas referências preciosas. Desfrute!
“Touch Me (All Night Long)”
“Disco Juice”
“Musique – Keep On Jumpin”
“Cloud One – Atmosphere Strut”