Por Décio Freitas e Dudu Palandre aka Anhanguera
Foto de abertura: divulgação
“O tempo é rei”, já dizia algum sábio. E de fato, só essa unidade de medida da grandeza física para nos trazer a interpretação sobre acontecimentos, vivências e, claro, a identificação do emergir de movimentos. Com a carreira iniciada por volta de 1995, nós, do Anhanguera, tivemos a oportunidade de acompanhar e observar algumas dinâmicas pontuais que afloraram na cena eletrônica brasileira e entre elas, a mistura com o Carnaval.
Mas antes de falarmos sobre essa mistura que duas décadas depois segue rendendo bons frutos, vamos a uma breve contextualização. Era 1989 quando a Love Parade surgiu, uma festa aberta ao público que tinha como objetivo promover um protesto pela paz e compreensão através do amor — selecionando a música eletrônica como a trilha sonora ideal. A primeira edição contou com 150 pessoas ao passo que oito anos depois, em 1997, o evento de verão tomou as ruas de Berlim com mais de um milhão de participantes. Para se aprofundar nesta história, selecionamos um documentário disponível abaixo.
Com a Love Parade brilhando entre os anos de 1997 e 2000, inevitavelmente influenciou incontáveis cantos do globo, inclusive, o Brasil. Em 1998, o Mercado Mundo Mix (MMM) foi um dos grandes inspirados. O grupo de eventos promoveu em terras tupiniquins, mais precisamente em São Paulo, a primeira parada de rua com trios elétricos embalados por sonoridades sintéticas. A Parada da Paz ganhou força e aconteceu também nos anos seguintes, chegando em uma das cidades com maior força carnavalesca do país: Salvador, na Bahia. Alguns dos nomes que representaram o gênero em território nacional foram Anderson Noise, André Meyer, Camilo Rocha, Dmitri, George Actv, DJ Marky, Pil Marques, Ramilson Maia e Renato Cohen. Confira alguns registros!
Outro fato que se tem documentado é a movimentação do Sirena, em Maresias (no litoral norte de São Paulo), ao trazer Paul Oakenfold — DJ e produtor com presença massiva na Love Parade — para o feriado de carnaval dos anos 2000. Esses foram alguns dos eventos que certamente colaboraram para o estabelecimento da frutífera relação house e techno com o Carnaval.
A mistura era tão marcante que chegou até uma das madrinhas do Carnaval de rua brasileiro, Daniela Mercury, que lançou em fevereiro de 2004, o álbum “Carnaval Eletrônico”. No trecho retirado diretamente do encarte do CD, ela contextualiza o processo: “convidei alguns dos DJs e produtores de música eletrônica mais importantes do Brasil, além de Gilberto Gil, Carlinhos Brown e Lenine, para comemorarmos juntos os cinco anos de surgimento do Trio Techno, o primeiro trio elétrico de música eletrônica que desfila no Carnaval da Bahia. Como no trio eletrônico, estamos fundindo drum`n`bass, house, techno, lounge, dub com ritmos brasileiros e com nossas vozes e criando faixas originais”.
Quer um exemplo do que saiu neste álbum? O super hit “Maimbê Dandá”, um grande impulsionador para o álbum alcançar a marca de 190 mil cópias vendidas no Brasil — mais um degrau importantíssimo para consolidar a mistura entre as almas clubbers e carnavalescas.
Diante da expectativa que toma conta dos mais variados perfis de brasileiros, se hoje temos carnavais como o Unidos do BPM, o D-Rrete, e tantos outros grandes carnavais que contemplam os amantes da mistura, é em consequência ao frutífero período que tivemos a oportunidade de experimentar.
Hoje, nós, do Anhanguera, buscamos compartilhar com vocês um pouquinho sobre a história que marca o início dessa mistura que tanto nos inspira e esperamos que tenham gostado deste Warehouse. Aproveite também os conteúdos dispostos pela matéria como um aquecimento para o Carnaval.
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