Coluna Anhanguera
Desde os primórdios da cena eletrônica no Brasil, a imagem que nós, artistas do interior do estado temos, é que a cidade de São Paulo se caracteriza como uma espécie de capital do techno no Brasil. Na sexta-feira, dia 8 de dezembro, ficou comprovado mais uma vez a legião de amantes do estilo que a cidade possui. Novatos que nunca viram Carl Cox juntamente com a turma da velha guarda representaram 8 mil pessoas que foram ao Canindé ouvir uma apresentação de 4 horas de um dos maiores DJs de todos os tempos da cena eletrônica.
Renato Ratier, expoente da cena eletrônica brasileira e um DJ experiente das pistas paulistanas, abriu para o mestre com um set que combinou estilos entre tech house e o techno, aquecendo uma pista que já estava lotada às 2 horas da manhã. Era quase impossível de se locomover e chegar na frente do DJ. Quem conseguiu um lugar no front, além de uma experiência única, teve o privilégio de sentir a potência do soundsystem do evento, um grave de respeito para fazer jus ao techno grooveado do mestre Carl Cox.
Ao subir nos decks, Carl foi ovacionado e uma legião de câmeras e smartphones registraram o momento em que o primeira batida levou opúblico a uma verdadeira catarse, aquela sensação de presenciar um artista do calibre do DJ e produtor inglês. Outra curiosidade, foi o formato híbrido da apresentação de São Paulo mesclando live com DJ set, elevando toda a genialidade do artista a outro nível. Elementos de clássicos do techno e do house ganharam nova roupagem durante a live, levando o público a uma verdadeira jornada pelo techno underground, caracterizado por um som com mais groove e orgânico, que hora leva mais para o acid e hora explora até samples de disco music. Nesse ponto, é importante destacar que a identidade do techno de Carl Cox é o que mais chama a atenção por não se prender ao techno industrial ao mesmo tempo que passa longe dessa nova fórmula do techno melódico contemporâneo.
Quem esperava o set mais versátil em estilo, talvez a minoria que estivesse ali, não foi dessa vez. Diferente do Rio onde Carl Cox passeou pelo afro house e disco, São Paulo ouviu o puro creme do techno, com direito a alguns clássicos como ‘Higher state of conscious’ de Josh Wink, ’20Hz’ (Carl Cox Remix) de Capricorn e até uma versão mais tech de ‘Around the World’ do Daft Punk. Conduzindo a pista com maestria, os momentos mais acid techno foram os grandes ápices da noite, destaque para a faixa ‘TKN’ de James Ruskin & Mark Broom de 2020.
Para nós do Anhanguera, que vivenciamos no passado outras apresentações de Carl Cox, como no Creamfields nos anos 2000 em Buenos Aires, a apresentação recente em São Paulo foi uma experiência um pouco diferente, em que o techno deu o tom da noite. Na Argentina, talvez o público, o line up ou mesmo o momento de Carl como artista, tenham influenciado o DJ explorar mais sua versatilidade começando com por set de house e terminando no techno, semelhante a passagem do DJ britânico pelo Rio no Museu do Amanhã, cidade em que o house é predominante na maioria dos dos eventos.
Mais uma vez Carl Cox, mostrou porque é considerado um gênio atrás da cabine e sem dúvida entregou uma noite histórica que fica na memória e confirma que o techno ainda pulsa e pulsa forte na cena eletrônica da capital paulista.