Warung Beach Club 19 anos: evento teste e o retorno da mágica do Templo

Por Jonas Fachi

Foto de abertura: divulgação

Foram longos meses de espera, meses em que os setores de entretenimento e turismo fecharam as portas por completo. Meses de incertezas, preocupações e perdas em todos os sentidos. Para os clubbers de verdade, foram quase dois anos aguardando com responsabilidade a sinalização dos órgãos de saúde o momento seguro o suficiente para cair na pista. Em especial, pela Praia Brava que permaneceu escura e em silêncio por todo esse tempo. Agora, no final de 2021, o Warung Beach Club finalmente pode anunciar seu retorno oficial com uma programação excelente, recheada de nomes importantes de sua história, somando-se a novidades, residentes e as primeiras gigs dos alunos do Warung School, projeto idealizado durante a pandemia para estimular e descobrir novos talentos. Para quem está iniciando, a oportunidade de encontrar o “caminho do Templo” por meio dos ensinamentos dos residentes do clube e importantes nomes da cena é única. Agora, alguns alunos tiveram a chance de se apresentar no evento teste e de aniversário da casa nos dias 13 e 14 de novembro. Outros, estão espalhados durante a programação de verão 2022.

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Foto: divulgação

19 anos, ninguém nunca imaginou que estaríamos ainda emocionados com um lugar tão especial. A retomada da vida noturna na região caiu exatamente no mês de aniversário do principal clube das Américas. Um evento para qualificar se tudo estava de acordo para a intensa temporada de verão que se aproxima. Novo sistema de caixas ambulantes – eliminando as filas nos pontos. Uma nova área de descanso atrás do Garden, onde uma nova pista ainda se forma. Novo sistema de retirada de ingressos, novos patrocinadores e, principalmente, a nova equalização do sistema de som do Inside. Nesse ponto, vale um destaque, pois o clube contratou um engenheiro de som especializado para reequilibrar as ondas sonoras e equalizá-las afim de permanecerem dentro do clube. Eu acompanho a evolução do Templo desde 2009, já vi diversos SS no main room e a primeira impressão foi: é a melhor versão que o clube já disponibilizou. Batidas firmes, limpas, sem incomodar os ouvidos e aquela tradicional sensação de peso nas ondas ao redor de todo o corpo, envolvendo a pista e ajudando a criar a famosa mágica do Templo.

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Noite 1

Minha missão era explorar todos os ambientes, assistir um pouco de cada artista e tirar um tempo para conversar e rever grandes amigos. Pessoas que nos bastidores fazem tudo acontecer com maior atenção, carinho e dedicação. Ao chegar, logo subi para matar a saudade do pistão, onde Aninha estava no controle. Confira set gravado ao vivo!

Poucos DJs conhecem aquela pista como ela, como abrir e como receber o público. Aninha toca um tipo de som que eu poderia ouvir por horas, de tão agradável, sério, e de uma classe inominável. Warm up clássico, linear e com elementos que conectam. Após tantos anos, ela ainda é um nome que é indispensável no funcionamento da noite musicalmente falando.

Fran Bortolossi b2b Boghosian veio na sequência, assisti a primeira hora de set e é impressionante como o som deles encaixou, criando uma harmônia musical que animou o público.

Eles tinham uma página em branco para desenhar, visto que quem viria depois seria Magdalena, com bpms elevados. Os dois puderam explorar o que tinham de melhor na case, sem medo de roubar a cena e entregando o que todos queriam – aquela sensação de que “estamos de volta, isso é Warung”.

A meia noite, desci para ver Behrouz, um dos pioneiros da cena eletrônica em São Francisco e proprietário do Do Not Sit On the Furniture, um dos clubes mais conceituados de Miami.

O iraniano logo nas primeiras músicas mostrou como é importante a construção de set quando se está em um horário difícil de tocar. Entre o warm up e o artista que fecha a noite, é um momento crucial para tudo correr bem, pois o público demanda mais energia, e o DJ precisa entregar isso em uma transição suave, dosando as expectativas para não cansar a pista antes do tempo. Behrouz fez isso de forma magistral. Começou lento, muito concentrado, sem pressa de mixar, e elevando o ritmo passo a passo. Apenas na última hora ele jogou músicas com maior intensidade. Em seguida, puxava novamente o ritmo para algo mais condizente com o horário. Behrouz soube mixar longamente, sem cair em breaks corrosivos, apenas sendo consistente e dinâmico. Vale destacar quando jogou um remix de “Behind The Wheel” do Depeche Mode e também na escolha para “encerrar o set” às 3h com um bootleg da música “I Wanna Dance With Somebody”, de Whitney Houston. (O vocal dessa música é inconfundível e foi tocado por Sven Vath no fechamento do seu set em abril de 2012 – impossível esquecer).

Para fechar, foi escolhido Leozinho, o primeiro residente do Templo, e um dos responsáveis por trazer o estilo house progressivo para o Brasil, formulando as bases conceituais que regem o clube. Por mais que o Warung sempre trouxesse DJs de todos os estilos da cena conceitual, o local possui seu estilo característico e é justo que tenha. Identidade é um dos segredos do sucesso e da longevidade.

Em 2007, o Templo ficou fechado por longos sete meses devido a não renovação de alvará. Quando pôde reabrir, Leozinho comandou o main room com um long set daqueles. É simbólico que ele tenha recebido o Garden para encerrar nessa nova reabertura. Seu set foi uma aula de house progressivo fino, clássico, parecendo um set dos anos 2000, quando as musicas não possuíam tantos elementos.

No meio do set Leoz, subi para conferir em torno de 45 minutos da Magdalena e também para sentir bem próximo da cabine toda aquele energia impressionante que só o main room é capaz de entregar.

Magdalena tem um carisma que te conquista em poucos minutos, sua emoção em estar tocando ali naquele palco lendário era visível. Então, claramente ela estava querendo mostrar tudo que tinha de melhor. Um techno intenso com nuances progressivas era o tom, somado a mixagens rápidas e momentos explosivos; era de fato para todos lavarem a alma. Entretanto, meu desejo em ver Leozinho tocando músicas emblemáticas falou mais alto, voltei para o Garden e o curitibano não decepcionou. Às 5h soltou “Wish You Were Here” de John Creamer & Stephan K e já no amanhecer “Love In Traffic” de Satoshi Tomiie.

Duas faixas que não foram escolhidas por acaso, são tracks que estavam em alta quando o Warung foi concebido, eram tocadas constantemente pelo ícones que influenciaram os sócios fundadores do clube e que por anos foram trazidas como forma de mostrar “o tipo de som” que se imaginou ser importante para a fixação do clube como um dos maiores do mundo.

NOITE 2

Cheguei por volta das 23h e logo fui conferir uma das novidades do Warung School, com Scabeni abrindo o Garden em uma noite que seria comandada por mulheres. Vale ressaltar que a capacidade do público era de 30% para cada evento teste, no entanto, logo os fãs se concentraram na pista para curtir o consistente e bem trabalhado set da DJ e produtora que vem se destacando nesse cenário de retomada da vida noturna.

Em seguida, subi para assistir um dos meus DJs brasileiros favoritos na atualidade. Ricardo Albuquerque é um daqueles residentes estratégicos que ajudam a preservar a identidade musical do clube. Nos últimos anos, seu lado mais house progressivo aflorou, somado a um entendimento de como construir e mixar esse estilo como poucos por aqui.

Sempre dando ritmo, sem muitos breaks e colocando pontos emocionais com precisão, ele conseguiu despertar em todos aquele sentimento de: “isso aqui é a mágica do Templo”. Destaque para sua faixa com Folleto, “Control Jay”, e para a escolha de finalização  do set, que foi ao meu ver o melhor momento das duas noites de aniversário. O curitibano soltou nada menos que “Lost & Found” de Guy J., música que inspirou o nome da gravadora do israelense e que parece feita para o Warung. Uma faixa capaz de fazer todos levantarem as mãos em reverência, sem nem pedir para isso. Essa música foi tocada por Hernan Cattaneo em 2012 e foi impressionante como causou a mesma sensação em outras pessoas, na mesma pista.

Na sequência, a lenda Gui Boratto assumiu o Inside. Nosso maior produtor de todos os tempos é sempre um ponto de inflexão em qualquer pista. Seu estilo é tão característico e especial, que parece hipnotizar quem ouve. Suas tradicionais linhas de baixo, seu ritmo que por vezes soa como uma banda diante dos nossos olhos, por vezes soa como um techno alemão. Tudo isso, tendo sua marca em cada elemento.

Entre os destaques do seu set, o remix de “Mutante” para Rita Lee foi interessante de ouvir, além de clássicos seus no final.

Desci para pegar a parte final do set da BLANCAh e percebi uma pista imersa pelo clima obscuro e intenso que a artista gosta de imprimir. A catarinense estava dando as cartas e seu techno melódico com pitadas progressivas envolveu toda a pista. Caindo com frequência em momentos de breaks introspectivos, que logo davam lugar as batidas rápidas e energéticas. BLANCAh se mostra cada vez mais uma artista pronta para encarar qualquer pista do planeta, qualquer festival e em qualquer horário, ela tem poder de fogo para levantar e emocionar a todos.

Nas últimas três horas da noite entrei em um dilema, conferir Lauren Lane conforme os amigos indicaram sobre ela ser uma excelente DJ para pista ou assistir Innellea, nome em alta e com um tipo de música que se conecta mais com meus ouvidos. Decidi permanecer no Garden com Lauren, pensando em subir para ver o final do artista alemão. Lauren declaradamente fala que o Templo é seu lugar favorito no mundo para tocar, então imaginei que ela prepararia algo para esse retorno.

Seu tipo de tech house é diferente, sem apelação e com muito groove. A DJ mostrou uma consistência rítmica que me surpreendeu, mixando curto e sem deixar a pista parada um segundo. Sem momentos de parada, sem baixa de tom, apenas indo e indo como mandava a cartilha do horário.

Ela claramente poderia subir o bpm para algo mais techno, tinha uma pista pronta para isso, porém se manteve firme e sem cansar. Destaco a faixa “Organ Belta” de Jamie Roy, que fez a pista ficar estasiada, além  do remix de “Around The World”, de Daft Punk já no amanhecer, além do fechamento com a clássica “Howling”, de Amê.

Pelos vídeos que assisti de Innellea, ele jogou faixas de grande apelo emocional e com enormes build ups. Honestamente, tenho preferido o bom e velho estilo old school de tocar, como fez Lauren, mesmo que o estilo não esteja entre meus favoritos, a consistência rítmica sempre vencerá.

Nas duas noites de aniversário, sai com aquele feeling dos primeiros dias de clube, emoção aflorada e sensação de “passe o tempo que passar, esse é o melhor lugar do mundo”.

*Infelizmente o clube não disponíbilizou fotos do evento para ajudar a ilustrar melhor os momentos.

O Warung Beach Club retorna com a abertura oficial nesta sexta-feira, 3. Um grande verão se aproxima e todos os caminhos levam ao Templo.

Playlist com mais vídeos dos artistas em destaque nas duas noites 

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