Por Jonas Fachi
Foto de abertura: Ebraim Martini
As noites de inverno do Templo sempre são ótimas de ir; público local e espaços para dançar. Neste último 9 de julho, a curadoria pensou em uma estratégia de dois nomes de mesmo peso para fechar o Garden e o Inside. DJ Tennis trazendo um som mais dançante e Hunter Game colocando sua sonoridade mais mental do lado de cima.
No ano em que completa 20 anos de história, o clube passa por sua mais profunda reformulação física. A cada evento, é possível notar alguma novidade e melhoria, sempre com enfoque em deixar a acústica do clube no melhor nível possível, sem gerar problemas para os empreendimentos vizinhos. Nesse período de transição, o público precisará ter um pouco de paciência até ser encontrado o melhor formato possível em relação ao volume do sound system. Uma coisa é fato, tudo é feito para entregar a melhor experiencia para os fieis. Digo isso não por qualquer inclinação, mas, sim, porque ninguém constrói uma marca global lendária por duas décadas sem ter a busca pela qualidade sonora e musical como base.
Garden – Foto: Ebraim Martini
Entrei no clube e subi diretamente para pegar o inicio de set do D-Nox, estava curioso para ver uma verdadeira lenda tocando em um horário de warm up. O alemão pegou meia pista já em uma energia muito boa, então, tratou de impor ritmo dentro de seu estilo característico. D-Nox é um daqueles artistas que você se conecta muito fácil, para observar e que te prende atenção pelo enorme carisma e bom feeling.
Após a meia noite e com a pista quase cheia, ele tratou de colocar sons um pouco mais explosivos e rápidos. Eu ainda preciso me acostumar a nova realidade de horários da casa, sou de um tempo em que até 01h se tocava sons bem lentos, afinal, havia toda uma noite e manha pela frente.
D-Nox – Foto: Ebraim Martini
Agora, com a festa terminando as 06h, é preciso dar o que o público quer por pelo menos seis horas. D-Nox leu bem esse papel, e sua sintonia com o Inside se mostrou perfeita no horário.
Às 01h30 surge o residente ZAC para assumir uma pista “decolando” Não é fácil subir ali e fazer o seu som depois de um cara como D-Nox. Porém, em toda sua história, o Warung sempre teve grandes DJs residentes, que se equiparavam e até cobriam as expectativas dos artistas de fora. Quem frequentou a primeira década do Templo sabe das lendárias noites em que Leozinho “colocava os gringos no bolso” só no vinil.
Ou então, dos sets inesquecíveis do Ryck Ryan pela manhã. Sim, o Arg já foi residente. Atualmente, ZAC vem ocupando esse papel por puro merecimento.
ZAC – Foto: Ebraim Martini
Você sabe quando o DJ veio muito preparado quando ele baixa o ritmo no começo do set e coloca a pista em uma vibe mais atmosférica. Os primeiros 45 minutos foram de pura classe, “na mão leve”, com paciência e conseguindo criar aquela atmosfera tensa e obscura que só existe ali. Olhar para os lados e ver a pista dançando em sincronia é um clássico no Templo, não são todos que conseguem fazer isso.
Após uma hora de set e com a pista nas mãos, Zac passou a jogar sons mais explosivos e com breaks mais longos, porém, com destreza para não jogar fora a conexão que havia criado. Vejo muitos DJs perderem a pista quando caem sequencialmente em longos breaks e arrastados. Zac mesclava com musicas até bem emotivas para manter tudo sob controle. No vídeo abaixo, “Cold Genius”, de Colle, que faixa!
Sabe quando você fica se perguntando “que som é esse?” Isso se chama pesquisa, repertório e preparado nos mínimos detalhes. Não há espaço para o aleatório. “Lyra”, de OutCome & Phillip Straub, surge e me desperta uma saudade enorme de ver John Digweed no Templo. A faixa saiu por sua gravadora Bedrock.
Eu estava descendo as escadas para ir ao banheiro, quando ouço a voz inconfundível de Bille Eilish na faixa “Everything I Wanted”, editada por Rauschhaus. Uma voz atual que parece que vem das bandas de sinth pop dos anos 90.
“Arcade” de Undercatt foi outro destaque, mais sinfônico e misterioso, dando um tom de drama ainda não sentido até então nesta noite. Logo depois, ZAC joga uma das melhores faixas que ouvi desde 2020, “Masada’”, de Marcus Meinhardt. Ela foi tocada pelo Sasha no início do ano, dando um selo do feeling para separar algumas perolas que combinam com o Inside.
Foto: Ebraim Martini
Certamente, esse foi o melhor set que eu já ouvi do catarinense. Hoje, é um DJ pronto, que não deve em nada para gringos desta mesma geração.
O Duo Hunter Game foi quem me fez inicialmente sair de casa e ir até a Praia Brava, afinal, nas suas outras duas passagens pelo clube, eu não pude conferir. O projeto tem se mostrado muito consistente ao longo dos últimos 10 anos. Desde a estreia no clube, em 2014, apenas como coadjuvantes, eles têm sido presença constante em sets de grandes artistas, além de lançar por gravadoras da linha de frente como LNOE e Afterlife.
É interessante ver como o staff do clube monitora certos produtores que tem tudo a ver com o estilo do Templo. Agora, depois de oito anos de sua estreia, os italianos finalmente tiveram a oportunidade de serem headliners fechando o Inside. Vale destacar que apenas Martio Bartola veio na tour. Sem problemas, a expectativa de um set sombrio de batidas pesadas, suas características máximas, se confirmariam.
Hunter – Foto: Ebraim Martini
Confesso que esperava um pouco mais na construção rítmica, sabe aquela sensação de que está tudo conectado, mas sem intensidade? Isso faltou no set. Acredito que pela responsabilidade de fechar fez com que Martio demorasse um pouco nas transições. Claro que o set foi muito bom, com grandes faixas e momentos em que a pista delirou, porém, teria sido mais apropriado Hunter ter tocado antes do ZAC, que foi o grande destaque dessa noite ao meu ver.
“Roar”, de Patrice Baumel, com remix de Adana Twins, uma das faixas que viraram clássico dentro dessa geração do melodic house & techno eu destaco como um dos pontos altos do set de Hunter.
De qualquer forma, é provável que se ele tivesse mais umas três horas de set para trabalhar, teria chegado em um grande nível de ritmo. Alguns DJs precisam de tempo, e isso é algo que não teremos mais. Quando deu 06h, Hunter estava chegando em seu melhor momento.
Hunter – Foto: Ebraim Martini
Sai do clube e ainda era escuro, o efeito inverno se deu como nunca havia visto em 13 anos frequentando a casa de madeira. Noites como essa, em que não se conta com turistas e frequentadores mais distantes, é onde se mostra o quanto o Warung mantém-se sólido em sua base local do vale e litoral Norte.