São Paulo nos anos 70 e 80 tinha uma grande população nas periferias que sentiam necessidade de curtir, expressar sua cultura e se sentir seguros em meio a uma turbulenta ditadura militar. Ao passo que essa parcela da sociedade começava a se sentir cada vez mais empoderada nos bailes black, artistas negros ganhavam cada vez mais notoriedade.
A Chic Show foi um baile preponderante para o sentimento de unidade do povo preto e periférico da época. As noites que chegavam a quase 20 mil pessoas no salão do clube do Palmeiras já receberam lendas como James Brown, Tim Maia, Jorge Ben Jor, Earth Wind & Fire, Sandra de Sá e por aí vai.
James Brown em show na Chic Show
Os bailes eram mais que apenas uma noite de música e curtição. Era um sinal de resistência. Dias, semanas, às vezes até meses antes as pessoas já se programavam para chegar com a roupa mais estilosa, o black bem cortado e o perfume mais cheiroso. Eram os pretos curtindo na área da elite branca e italiana.
No documentário da Chic Show disponível no Globoplay, Mano Brown e Ice Blue, lendas do hip hop nacional, comentam que ‘’tinha todo o lance que antecedia (o baile). Comprar roupa, cortar cabelo, comprar ingresso, encontrar a rapaziada, chamar os primos. Era um movimento que era mais do que só o dia da festa. Era um mês de movimento. Todo o dinheiro que a gente economizava era pra aquilo ali.’’
Nesta produção dirigida por Emilio Rodrigues e Felipe Giuntini com duração de 1h30, Felipão, criador da Chic Show, relembra a história dos bailes associando ao contexto e sua vivência da época. Também há entrevistas de diversos artistas pretos como Péricles, Sandra de Sá, Emicida, Gilberto Gil e outros que viveram essa época. Além disso, há trechos resgatados da época de entrevistas dentro das festas que mostram o que representava a Chic Show para aquelas pessoas. Quem trabalhava na equipe, seja na produção ou como DJ das noites, também falam como era algo revolucionário.
Sandra de Sá relembra as noites em que se apresentou no baile e comenta que ‘’era doida pra fazer show na Chic Show, e fiz três meu amor (risos)’’.
Para além da curtição e da ótima música todas as vezes, os confrontos dos jovens negros contra a polícia também eram constantes. Seja indo ou voltando, os enquadros e a repressão eram constantes, o que reforçava a importância daquele espaço seguro de diversão. ‘’Por que? Porque eram jovens negros curtindo num final de semana’’, comenta Luizão.
Este ano, em julho, uma festa de comemoração dos 50 anos da Chic Show aconteceu também no Palmeiras, mas dessa vez no reformado Allianz Parque com YG Marley, Lauryn Hill e Wycleaf Jean.
Você já conhecia esse importantíssimo movimento cultural da black music em nosso país?
Por Adriano Canestri