Para quem já está imerso no universo da música eletrônica negra, como o afro house e o amapiano, Joss Dee dispensa apresentações. Trata-se de um genuíno perfil de artista, representado por uma jornada de quase 15 anos.
Foi um dos primeiros a difundir o afro house na cena brasileira, bem antes da trend se formar nos anos recentes por aqui. Natural de Luanda, o angolano cria pontes entre vertentes africanas de lá e daqui.
Ele vai lançar em breve lançar seu álbum debut, “Funkeiro Kudurista”, uma fusão de estilos que reforça tal ponte África-Brasil e exibe o resultado da aprendizagem intensa à qual Joss Dee se propôs em solo brazuca.
Esta última semana vem sendo de celebração para ele, que aproveitou o aniversário para gravar um belo set de afro house no Rio de Janeiro, onde mora, com direito à vista para os Arcos da Lapa e sobreposições imagéticas do cotidiano carioca.
“Este álbum é um marco, uma consolidação para mim. É um álbum que surge após um longo tempo de dedicação.Por me sentir deslocado em termos de espaço na cultura de música eletrônica no Brasil, por não conseguir encontrar lugares onde pudesse atuar tocando afro house, decidi passar a misturar o gênero com o funk e, aos poucos, também uma pitada de kuduro, algo característico também da minha sonoridade. É um álbum de AfroFunk”.
A comemoração vem com esse sabor de conquista, como todas as outras – sucessos musicais; subir aos palcos com Erykah Badu, Flora Matos, Criolo, entre outros; ter sua faixa com Ella Fernandes lançada no Rock in Rio; presença constante no Top 100 de amapiano no Beatport, e muito mais.
O músico também faz parte da Academia do Prêmio Multishow, e é vencedor do prêmio do festival da Preta Hub em parceria com o Mercado Livre, somente algumas das conquistas que denotam o lugar de prestígio de Joss Dee no cenário musical.
“A cena eletrônica para a música africana encontra-se em uma de suas melhores fases. Hoje em dia, em diferentes países do continente africano, como África do Sul, Angola, Namíbia, Moçambique e Nigéria, realizam-se grandes festivais de música eletrônica, que contemplam principalmente o afro house (criado na África do Sul por volta de 2006) e o amapiano, uma vertente nova que já é uma tendência forte na Europa, EUA e vários outros lugares e muitos DJs são reconhecidos por suas performances nesses gêneros. Eles se consolidam e afirmam cada vez mais a presença da música africana nesses circuitos de música eletrônica.”
Ele também cumpre propósito através da produção cultural. Na curadoria da label party Okupiluka, ele conecta, promove e prestigia a música africana em sua ampla redoma de sonoridades.
Entre shows, produções no estúdio e a pesquisa intensa que muda de humores a depender do contexto – do kuduro ao house, do funk ao amapiano – ainda teve o fôlego para fazer uma turnê especial pelas Filipinas como parte de uma imersão artística.
“Destaco Nduduzo Siba, cantora e performer sul-africana que mora em São Paulo e interpreta canções de afro house, amapiano, gqom e kwaito com aquela essência da África do Sul. Isso me chama muita atenção. DJ Parker é angolano, residente em Curitiba e é dono também de uma pesquisa muito potente e de longevidade preservando essa cultura. E Curol, que eu tive o prazer de assistir num espetáculo e gosto muito já há uns anos. Quando me mudei para o Brasil e comecei a produzir isso, as pessoas
não ouviam, não tocavam isso. E ela foi uma das primeiras DJs que eu ouvi no Brasil, fora os DJs africanos que sempre tocaram esses gêneros aqui.”
Toda essa alçada no afro house e vertentes africanas, paixão pela música e pela pesquisa, além da presença artística bem ramificada na cultura musical, são fatores que tornam Joss Dee um dos principais artistas do cenário. Acompanhe!
por Rodrigo Airaf